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FILOSOFIA EGÍPCIA ANTIGA

A primeira dinastia egípcia começou, aproximadamente em 3100 a.C. e a história do Egito antigo só terminou no ano de 332 a.C. quando Alexandre, o Grande, conquistou toda região. Portanto, o que hoje denominamos civilização egípcia foi um dos mais longevos processos de aquisição de valores sociais, culturais, tecnológicos etc., que define o desenvolvimento de uma sociedade dentre as chamadas civilizações antigas.

 

Alexandre, o Grande, teve Aristóteles como seu preceptor, um mestre que ministrava preceitos e instruções, uma espécie de professor de tempo integral, pessoa encarregada da instrução de uma criança ou jovem. Privilégio dos nascidos na família real ou em famílias abastadas àquela época.

 

Aristóteles foi discípulo de Platão e este, foi discípulo de Sócrates. Os três são considerados "os clássicos" da Filosofia Ocidental. Anterior a eles, o período pré-socrático cujo primeiro filósofo é Tales de Mileto, fundador da escola jônica.

Sendo Tales de Mileto considerado o primeiro filósofo ocidental e, tendo nascido em 640 a.C., podemos então afirmar que quando Alexandre conquistou o Egito, a filosofia ocidental tinha apenas três séculos de existência, 308 anos exatamente, se as datas envolvidas estiverem na posição exata na extensa linha do tempo.

A pergunta impertinente que me incomoda: Sendo a Filosofia a mãe de todas as ciências, como puderam os egípcios desenvolver sua tão admirada cultura? E tão avançada ciência para a época? Sem filosofia?

Portanto, a filosofia não nasceu na Grécia. Ela já existia no Egito e em outras regiões séculos antes. No Egito, há uma palavra, rekhet, que significa exatamente o que a palavra “filosofia” significa para os gregos. É uma arte da palavra, do saber. Através dessa arte do saber, a cultura egípcia busca uma imagem da verdade, da qual jamais será conclusiva, já que o Eterno, o Ilimitado, o Infindável, não é possível alcançar. Apoia-se na arte de aprender a viver nos mundos divinos e no merecido contato com os deuses.

 

O desenvolvimento moral constitui, deste ponto de vista, a mais nobre das ocupações humanas, já que dela deriva uma paulatina aproximação da Verdade. Todo homem deve buscar a Verdade, não por vaidade pessoal, mas como um dever perante a humanidade de transmitir conhecimentos.

 

A moral no Egito Antigo está em conformidade com um estilo de vida, sendo o aspecto estruturador e nutridor de sua civilização. Sua influência cabe desde os menores aspectos cotidianos até alcançar as maiores e as mais profundas questões humanas. A moral é tão vital na civilização egípcia que ela jamais separa as atitudes humanas da Justiça Divina.

 

Por exemplo, a autoridade moral do pai na família é o reflexo da autoridade moral do Faraó no Império e, por sua vez, o Faraó, devido à sua evolução espiritual e seus conhecimentos, representa a Lei ou a Ordem Divina. Os egípcios daquele período consideravam a união matrimonial essencial para a base da sociedade, e o que propiciava a felicidade humana, estando fundamentada no amor, na compreensão mútua e recíproca fidelidade.

 

Especial valor também era dado à amizade entre os homens, pois uma boa amizade, de coração, complementava a felicidade familiar. A caridade era a forma que a sociedade demonstrava gratidão aos deuses. Entendiam que possuir bens era uma dádiva divina, e seu compartilhamento solidário expressava sua gratidão aos deuses.

 

A estruturada hierarquia egípcia, pela qual emanavam as ordens do Faraó até o povo, não era uma fria máquina governamental. Desde o Faraó até o mais humilde dos empregados, todos respondiam a uma moral ou um senso de justiça que só poderia ter êxito se cada homem fosse responsável perante sua própria consciência, bem como perante seus superiores por um lado e seus subalternos por outro. Para os egípcios, a justiça emana de Deus e, entre os homens, se traduz como lei e requer uma responsabilidade ativa, sobretudo diante do Sagrado.

 

Outra maneira egípcia de fazer Filosofia é ler na Natureza, ler na própria alma, meditando no significado profundo de tudo quanto rodeia o ser humano; e de toda uma série de experiências – algumas delas perigosas para a vida e para a razão – que despertam certas capacidades ou poderes celestiais dentro da própria pessoa, fazendo com que a alma e a mente se abram como um lótus perante o Sol do Espírito Universal.

 

A filosofia, tal como era concebida pelos egípcios, era um modo de harmonizar a mente com o grande Diamante Dodecaedro que é a Mente do Logos: fazer dela um instrumento musical a vibrar com pureza diante das brisas da sabedoria, dentro da alma; e das brisas da vida, fora.

 

Quando se fala da História do Egito Antigo, é difícil dividir a conversa em tópicos, como Filosofia, Arte, Morte... os antigos egípcios eram um povo que não segmentava a existência. Vida e morte bailavam sobre o mesmo palco.

 

Uma atuava como extensão direta e ininterrupta da outra. A morte, por exemplo, não consistia, simplesmente, na não vida, mas numa continuidade, espiritual e de corpo renovado e eterno, da vida. Pode-se entender a Filosofia egípcia da morte analisando-se o indivíduo sob dois aspectos:

  • BA: Alma superior imortal, gêmeo com coração, cópia de cada ser humano. É a força plástica através da qual a alma interfere no mundo dos vivos.

  • KA: Duplo etérico do morto, substrato vivo e ativo, base da vida póstuma que desempenha após a morte o papel do corpo terrestre durante a vida.

 

O Ka se opõe ao Kaibiti ou Sombra, o segundo composto do ser póstumo, que se caracteriza pelo conjunto dos desejos elementares, paixões, vícios, defeitos, que se decompõe e se manifestam sob o aspecto de um fantasma.

 

As embalsamações serviam para preservar o corpo terreno para que este servisse de morada ao Ka. Toda a vida e filosofia egípcias se baseavam nos conceitos básicos descritos acima. Ba e Ka são gêmeos inseparáveis constituintes do indivíduo no pós-morte. O conjunto do corpo físico era chamado de Khat.

 

Vários filósofos gregos antigos consideravam o Egito um lugar de sabedoria e filosofia. Isócrates declara que "todos os homens concordam que os egípcios são os mais saudáveis ​​e tem a vida mais longa entre os homens; e então, pela alma, eles introduziram o treinamento de filosofia ..." Ele declara que escritores gregos viajaram ao Egito para buscar o conhecimento. Um deles foi Pitágoras de Samos, que "foi o primeiro a trazer aos gregos toda a filosofia", segundo Isócrates.

 

Platão declara em Fedro que o Thoth egípcio "inventou números e aritmética ... e, o mais importante de tudo, letras". No Timeu de Platão, Sócrates cita os antigos sábios egípcios quando o legislador Solon viaja ao Egito para aprender: "Ó Solon, Solon, vocês gregos são sempre filhos." Aristóteles atesta que o Egito é a terra original da sabedoria, como quando ele declara na Política que "os egípcios têm a reputação de serem a mais antiga das nações, mas sempre tiveram leis e um sistema político".

 

Uma das figuras egípcias que costuma ser considerada um filósofo foi Ptah-Hotep. Ele serviu como vizir do Faraó Djedkaré Isesi da V dinastia, no final do século XXV e início do século XXIV a.C. Ptah-Hotep é conhecido por seu trabalho abrangente sobre comportamento ético e filosofia moral, chamado “Instruções de Ptah-Hotep” ou “As Máximas de Ptah-Hotep”. O trabalho, que se acredita ter sido compilado por seu neto Ptah-Hotep Tjefi, é uma série de 37 cartas ou máximas endereçadas a seu filho, Akhet-Hotep, falando sobre tópicos como comportamento diário e práticas éticas.

 

Outras obras de relevância moral são atribuídas a I-Em-Hotep (vizir do Faraó Djozer da III dinastia, no século XXVII) e ao Príncipe Hordjedef (filho do Faraó Khufu da IV dinastia). Existem ainda as Máximas ou Ensinamentos de Ani (um escriba do Faraó da XVIII dinastia), Amenemop (4º Faraó da XXI dinastia), Merikara (Faraó da X dinastia) e Ankh Sheshonq (prisioneiro político no Egito do período ptolomaico).

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Âncora 1
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Âncora 2

I-EM-HOTEP (2655 a.C. – 2600 a.C.)

Por vezes grafado Immutef, Im-Hotep ou Ii-Em-Hotep, literalmente significando “Aquele que vem em paz”; chamado pelos gregos de Ιμυθες, transliterado Imouthes. Foi um polímata egípcio, que serviu a Djoser, faraó da Terceira Dinastia, na função de Vizir ou Chanceler (o mais alto cargo do país) do faraó, além de sumo-sacerdote do deus-sol Rá, em Heliópolis. É considerado o primeiro arquiteto, engenheiro e médico da história antiga, embora dois outros médicos, Hesi-Rá e Merite-Ptá, tenham sido contemporâneos seus.

A tradição diz que I-Em-Hotep era filho de uma mulher chamada Khreduankh e do deus Ptah. É claro que seu pai não era a divindade, mas sim um mestre-de-obras do reino chamado Kanefer. Seus pais deviam ser membros da aristocracia, como indica seu título de Nobre Hereditário. Provavelmente foi educado por um escriba a partir dos 12 anos e teria começado sua carreira ainda jovem ao aprender seu ofício com o pai nas oficinas reais de Mênfis. Deve ter ingressado na vida sacerdotal, sendo que a função de Sumo Sacerdote de Heliópolis só podia ser ocupada após extensa educação nas artes e nas ciências.

 

Arquiteto do rei, astrônomo e astrólogo, autor de sábios escritos e provérbios, poeta de renome, I-Em-Hotep era, também, o sumo sacerdote do Egito e o Hierofante do sistema de ensinamento religioso e esotérico do seu tempo. Ele também era considerado pelos egípcios como o maior dos escribas e escreveu tratados de medicina e de astronomia e uma obra de provérbios que, infelizmente, não foi encontrada pelos arqueólogos. Quando se tornou lendário, os escribas lhe prestavam homenagem derrubando algumas gotas de seu godé em honra do antigo escrevente antes de começarem seu trabalho. Durante o reinado de Djoser ocupou a segunda posição na hierarquia faraônica e na base da estátua daquele rei, encontrada em sua pirâmide, o nome e títulos de I-Em-Hotep aparecem no mesmo lugar de honra que os do faraó.

 

A lista completa de seus títulos é:

  • Chanceler do Rei do Egito, Doutor,

  • Primeiro na linhagem do Rei do Alto Egito,

  • Administrador do Grande Palácio,

  • Nobre hereditário,

  • Sumo Sacerdote de Heliópolis,

  • Astrônomo,

  • Astrólogo,

  • Construtor,

  • Carpinteiro-Chefe,

  • Escultor-Chefe, e

  • Feitor-Chefe de Vasos.

 

I-Em-Hotep foi um dos poucos mortais a serem ilustrados como parte de uma estátua de um faraó. Foi um de um grupo restritíssimo de plebeus a quem foi concedido o status divino após a morte; o centro de seu culto era Mênfis. A partir do Primeiro Período Intermediário I-Em-Hotep também passou a ser reverenciado como poeta e filósofo. Suas palavras eram mencionadas em poemas: "Eu ouvi as palavras de I-Em-Hotep e Hor-Dedef, de cujos discursos os homens tanto falam."

 

A localização da sepultura de I-Em-Hotep, construída por ele próprio, foi escondida com absoluta cautela, e permanece desconhecida até os dias de hoje, apesar dos esforços para encontrá-la. O consenso acadêmico é de que ele estaria escondido em algum lugar de Sak-Ka-Ra. A existência histórica de I-Em-Hotep é confirmada através de duas inscrições contemporâneas feitas na base, ou pedestal, de uma das estátuas de Djoser (Cairo JE 49889), bem como um grafito na muralha que circunda a pirâmide não-terminada de Tireis. A segunda inscrição sugere que I-Em-Hotep teria vivido por alguns anos depois da morte de Djoser, e ajudou na construção da pirâmide do rei Tireis, abandonada devido ao breve reinado deste soberano.

 

I-Em-Hotep arquitetou a primeira pirâmide do Egito - a pirâmide de Sak-Ka-Ra, com seis enormes degraus, e que atinge aproximadamente 62 metros. As primeiras pirâmides do Egito eram formadas por degraus, que nada mais eram que mastabas empilhadas (mastaba palavra que provém do árabe maabba, "banco de pedra" ou "lama", dependendo do autor, que por sua vez vem do aramaico misubb, podendo ter origem persa ou grega). Esta configuração foi idealizada por Im-hotep a pedido do Faraó Djoser, que desejava para si um túmulo mais grandioso que os que o antecederam e, sugeria ainda, segundo alguns arqueólogos, a ascensão ao céu. I-Em-Hotep é a primeira figura de um Arquiteto Médico a surgir claramente das névoas da antiguidade.

 

Foi, no entanto, como médico e fundador de templos de cura que I-Em-Hotep deixou traços mais profundos na areia do tempo. Suas curas tornaram-se proverbiais, granjeando-lhe gratidão e profunda reverência do povo. Esses sentimentos permaneceram após sua morte e fizeram com que o Egito o elevasse ao nível de semidivino.

 

O renome de I-Em-Hotep ganhou a Grécia. Chamado pelos gregos Imouthes, foi, posteriormente, identificado como Asclépios, filho de Apolo, deus grego da medicina, ou o Esculápio dos romanos. Vários textos mencionam Asclépios como "Filho de Ptah", título dado, no Egito, a I-Em-Hotep. Essa identificação, com o tempo, tornou-se total: o nome de I-Em-Hotep imergiu completamente no de Asclépios.

 

A arte médica no Egito era considerada sacra e ligada ao sacerdócio. O sistema da medicina sacra propagou-se na Grécia, onde os "Asclepiades" - membros, ao mesmo tempo, de escolas médicas e de fraternidades religiosas - guardaram, por muito tempo, o monopólio da arte médica. Hipócrates, cujo juramento está ainda em uso na profissão médica, era um "Asclepiade" da fraternidade de Coso. Só depois do século quinto antes de Cristo, a medicina passou a ser profana e aberta a todos. Todavia, por muito tempo ainda, continuaram a existir na Grécia os santuários - Asclepíeda - com seus sacerdotes-médicos, dirigindo verdadeiras clínicas. O culto de Asclépios passou a Roma no século terceiro antes de Cristo, depois de uma epidemia de peste.

 

A contemplação de sua obra, tão variada em suas manifestações, tão notável no que realizou, tão duradoura em seus efeitos e tão excepcional em sua glorificação e apoteose final, provoca um tributo de profunda admiração.

 

Frases de I-Em-Hotep

  • Não há porvir sem servir, e não há serviço sem conhecimento.

  • Quando algo em seu semelhante lhes desagrada, procurem lembrar que a alma dele, assim como a sua, aspira às Alturas, ao serviço, à paz e ao amor.

  • Quando chegarem à compreensão de serem unos com o Criador e suas criaturas, devem abandonar toda crítica.

  • Se julgarem os outros, mais cedo ou mais tarde, a mesma maneira de julgar será aplicada a vocês. Cada palavra que deprecie os outros, que é maldosa, com o tempo voltará a vocês.

  • O homem que possui a sabedoria faz tudo que pode, para ajudar um ser amado a alcançar um estado superior de evolução. Ele não perdeu a capacidade de sofrer por um ser amado, mas sabe ser impessoal.

  • Somente uma alma nova é impaciente e rebela-se contra qualquer limitação. Uma alma que adquiriu experiência e sabedoria sabe que os obstáculos que encontra são necessários para que adquira a paciência, a perseverança ou qualquer outra qualidade, da qual carece.

  • Um serviço sincero, seja pelas ações ou seja pela palavra – escrita ou falada – ou seja por qualquer outro meio, estabelece um elo na corrente que deveria unir os homens. Eles se tornam irmãos, participam dos problemas uns dos outros, e assim a união cresce.

  • Antes de começar a semear, o homem deve compreender que o caminho que segue o seu semelhante pode ser tão bom para ele como é o seu próprio, para si.

  • Os que querem ser semeadores devem aprender a discernir os diversos terrenos e saber escolher o terreno apropriado para a semeadura. Isto evitaria muitos passos em vão e muitas decepções para os semeadores.

  • Quanto maior for o conhecimento, quanto mais vasto o horizonte humano, mais tolerante se torna o homem. Descobre que nada é mau; que existem as forças positiva e negativa e o que é negativo para um, pode ser positivo para outro.

  • Cada ser humano conhece um ou outro aspecto do amor, mas o amor verdadeiro é aquele que conduz à união com o Criador.

  • Servir a humanidade é, sem dúvida, uma atividade meritória, mas amar a humanidade é bem mais meritória.

  • Não há grande mérito em amar os filhos, a família, um amigo ou um vizinho que lhe são caros, mas amar a todos os semelhantes, com um amor impessoal, como sendo filhos do mesmo Pai.

  • Enquanto um ser humano está dominado pelo amor pessoal, não terá o poder de curar outros, portanto, os que aspiram ao dom de curar, devem, primeiramente, esquecer a própria pessoa e submeter totalmente a sua vontade à Vontade Divina.

  • Não acusem ninguém, nem ao Criador, nem ao destino, mas compreendam que suas inerentes qualidades divinas, permitem-lhe transformar as circunstâncias da vida e, pelo amor, criar novas.

  • Qualquer coisa, seja qual for, criada sem amor, não dá bom resultado.

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Âncora 3

PTAH-HOTEP (2414 a.C. – 2375 a.C.)

 

Ptah-hotep (Ptah ħwtp), também conhecido como Ptahhotpe ou Ptah-Hotep, foi funcionário do antigo Egito durante o final do século 25 a.C. e início do século 24 a.C. Ele era o administrador da cidade e Primeiro-Ministro (ou Vizir) durante o reinado do faraó Djedkaré Isesi, na V Dinastia, entre 2380 a.C. e 2342 a.C. Ele tinha um filho chamado Akhet-Hotep, que também se tornou um Vizir. Ele e seus descendentes foram enterrados em Sak-Ka-Ra, na necrópole em que os grandes faraós foram sepultados também.

 

O túmulo de Ptah-Hotep está localizado em uma mastaba no norte de Sak-Ka-Ra, onde ele foi colocado para descansar por si mesmo, seu túmulo tornou-se famoso pelas pinturas nas paredes, que o representam no seu trabalho de administração da cidade. Seu neto, Ptah-Hotep Tshefi, que viveu durante o reinado de Unas, foi enterrado na mastaba de seu pai. Seu túmulo é famoso por suas representações em circulação.

 

Segundo o texto encontrado Ptah-Hotep, já em idade avançada, solicitou ao faraó a possibilidade de retirar-se do seu cargo de Vizir, solicitando que seu filho o substituísse, o que seria habitual já que na sociedade egípcia se esperava que o filho pudesse dar sequência a profissão do pai. O faraó aceitou a proposta do seu Vizir e este então decidiu que deveria transmitir os seus conhecimentos sobre a vida para o filho.

 

Os ensinamentos de Ptah-Hotep

Os ensinamentos atribuídos ao Ptah-Hotep se encontram registrados no papiro prisse, descoberto pelo egiptólogo francês Émile d’Avennes, no século XIX  na necrópole de Tebas. Hoje o papiro se encontra na Biblioteca Nacional da França. É uma coleção de máximas, dividas em: prólogo (no qual Ptah-Hotep se apresenta perante o rei pedindo a sua reforma), ensinamentos (37 máximas) e epílogo. As máximas não cobrem todos os aspectos da vida egípcia; apresentam aspectos positivos e negativos, dramatizados, do envelhecer na sociedade egípcia antiga. Para a maior parte deles tocam nas virtudes pacíficas de bondade, justiça, honestidade, moderação e autocontrole.

 

Literariamente, as sentenças de Ptah-Hotep assemelham-se bastante ao livro de provérbios. Aborda temas que preocupam o homem de todos os tempos, como: os males da vida presente, especialmente as injustiças, as dúvidas perante o que há depois da morte, etc.

 

Humildade para aprender:

Não te envaideças de teu conhecimento, toma o conselho tanto do ignorante quanto do instruído, pois os limites da arte não podem ser alcançados e a destreza de nenhum artista é perfeita. O bem falar é mais raro que a esmeralda, mas pode encontrar-se entre criados e britadores de pedra.

 

Conduta em discussões:

Se encontrares um contendor em seu melhor momento, um homem poderoso e superior a ti, abaixa teus braços e curva tuas costas, pois insultá-lo não o fará concordar contigo. Não te importes com palavras duras, não o contestando em seu argumento. Ele será chamado de ignorante e tua contenção enfrentará seu jorro de palavras.

 

Se encontrares um contendor em seu melhor momento, que seja um teu igual, de tua posição, farás com que teu valor o supere pelo silêncio, enquanto ele fala de modo hostil. Serás aprovado pelos que ouvem e teu nome será agradável aos magistrados.

 

Se encontrares um contendor em seu melhor momento, um homem humilde que não seja um teu igual, não o ataque por ser fraco. Deixa-o em paz, ele se refutará a si mesmo. Não lhe respondas para aliviar teu coração, não leves o teu coração contra teu oponente. Desprezível é aquele que humilha um homem humilde, embora cada um aja segundo seu coração, mas ao bateres nele terás a reprovação dos magistrados.

 

Máximas de Ptah-Hotep

  • "Grande é a Lei (Maat)."

  • "Toda conduta deve ser tão reta que poderá medi-la com um prumo."

  • "Injustiça existe em abundância, mas o mal nunca terá sucesso a longo prazo."

  • "Punir com princípio, ensinar de forma significativa. O ato de parar o mal leva ao estabelecimento duradouro da virtude."

  • "A raça humana nunca realiza nada. É o que Deus manda que seja feito."

  • "Aqueles a quem Deus guia não erram. Aqueles cujo barco Ele tira não podem cruzar."

  • "Se queres ser forte, sê um artesão na fala, pois a força do homem está na língua e a fala do homem é mais forte que a luta."

  • "Siga seu coração toda a sua vida, não cometa excesso em relação ao que foi ordenado."

  • “Se vais por um caminho construído cada dia com as tuas próprias mãos, chegarás ao lugar onde deves estar.”

  • "Se trabalha firme, e o cultivo ocorre como deveria nos campos, é porque Deus colocou abundância em suas mãos."

  • “Você nunca deve se orgulhar de seu conhecimento ou de como você aprendeu, porque a arte não tem limites e nenhum artista jamais atinge a perfeição.”

  • "Não mexa com sua vizinhança, porque as pessoas respeitam o silêncio."

  • "Ouvir beneficia o ouvinte."

  • "Se aquele que ouve escuta plenamente, então aquele que ouve se torna aquele que entende."

  • "Quem escuta se torna o mestre do que é proveitoso."

  • "Ouvir é melhor do que qualquer coisa, assim nasce o amor perfeito."

  • "Deus ama quem escuta. Ele odeia aqueles que não ouvem."

  • "Quanto ao homem ignorante que não escuta, não realiza nada. Ele equipara o conhecimento com a ignorância, o inútil com o prejudicial. Faz tudo o que é detestável, então as pessoas ficam com raiva dele a cada dia."

  • "Uma palavra perfeita está escondida mais profundamente do que pedras preciosas. Encontra-se perto dos criados que trabalhavam na pedra de moinho."

  • "Siga seu desejo enquanto você viver e não faça nada além do que é realmente necessário. Não reduza o tempo de seguir seu desejo, pois o desperdício do tempo é uma abominação para o espírito."

  • "Só fale quando tiver algo que vale a pena dizer."

  • "Quanto a você, ensine seu discípulo as palavras da tradição. Que ele sirva de modelo para os filhos dos grandes, para que nele encontrem o entendimento e a justiça de todo coração que lhe fala, visto que o homem não nasce sábio."

  • "Não seja arrogante por causa do seu saber, conferencie com o ignorante do mesmo modo que com o instruído."

  • "Uma mulher de coração feliz traz equilíbrio."

  • "Ame sua esposa com paixão."

  • "Quanto àqueles que acabam continuamente cobiçando as mulheres, nenhum de seus planos terá sucesso."

  • "Quão maravilhoso é um filho que obedece a seu pai!"

  • "Como ele é feliz de quem é dito: 'Um filho é bondoso quando sabe ouvir.'”

  • "Não culpe aqueles que são sem filhos, não os critiquem por não terem nenhuns, e não se vanglorie de tê-los você mesmo."

  • "Que seu coração nunca seja vão por causa do que sabe. Tome o conselho dos ignorantes, assim como o dos sábios..."

  • "Portanto, não coloque nenhuma confiança em seu coração no acúmulo de riquezas, pois tudo o que tem é um dom de Deus."

  • "Pense em viver em paz com o que possui, e tudo o que os deuses escolherem dar virá por si mesmo."

  • "Não repita um boato calunioso, não o ouça."

  • "Aquele que tem um grande coração tem um dom de Deus. Aquele que obedece ao estômago obedece ao inimigo."

  • "Aqueles a quem os deuses guiam não podem se perder. Aqueles que eles proíbem a passagem não serão capazes de atravessar o rio da vida."

  • "Quem é sério o tempo todo jamais terá um momento agradável, enquanto quem é frívolo o tempo todo jamais terá um lar."

  • "Aqueles que precisam ouvir os apelos e gritos de seu povo devem fazê-lo com paciência. Porque as pessoas querem muito mais atenção para o que dizem do que para o atendimento de suas reivindicações."

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Âncora 4

ANI (séc. XIII a.C.)

 

Ani viveu durante o século XIII a.C., em Tebas, capital do Reino do Nilo, logo após o reinado do faraó Tutankamón. Na época em que Ani viveu, o Egito era governado por Ramsés II (1298 a.C. – 1235 a.C.), o país vivia um período de estabilidade política e religiosa. Pertencia à classe dos ricos funcionários e, por isso, podia comprar o seu Livro dos Mortos na época em que viveu. Ani era um Escriba Real e conhecido apenas pelo “Papiro de Ani”. Datado da XVIII dinastia, época do Novo Império do Antigo Egito, foi descoberto em uma tumba em Tebas em 1887 e comprado de comerciantes egípcios pelo Museu Britânico em 1888.

 

No Novo Império, houve o que podemos chamar de democratização do post-mortem, enquanto que no Antigo Império os “Textos das Pirâmides” eram direcionados somente ao faraó e, no Médio Império os “Textos dos Sarcófagos” eram um privilégio também da elite. Mesmo com essa democratização, os papiros não eram materiais acessíveis a todos, pois tinham um alto custo.

 

Em 1898, o egiptólogo inglês Sir Ernest Alfred Thompson Wallis Budge, curador do Museu Britânico, a partir do papiro de Ani, publicou uma edição de todos os capítulos do “Livro dos Mortos” sob o título de “Capítulos da Saída da Alma à Luz do Dia ou ...à Luz de Rá”.

 

Trata-se de um conjunto, aparentemente heterogêneo, de discursos ou fórmulas mágicas, que habitualmente faz parte de rituais e às vezes representações dramáticas, cujo objetivo se diz ser a garantia da ressurreição num nível elevado, evitando os perigos que existem no caminho até o outro mundo.


Como a maioria dos livros dos mortos, o papiro de Ani não foi escrito especificamente por ele. Esses Livros dos Mortos foram feitos em oficinas especializadas, às quais o egípcio se voltou para obter seus móveis funerários. Podemos ver que o texto desse papiro é da mão de pelo menos dois escribas, pois o nome de Ani foi adicionado mais tarde.


Atualmente, nenhum outro documento em nome de Ani é conhecido; as informações a ele se limitam ao que está escrito neste papiro. O próprio nome de Ani é sem dúvida um diminutivo, sem que saibamos qual é nome original. Seus títulos são de escriba real de grande importância: Escriba real, Escriba administrador das ofertas divinas de todos os deuses, Chefe dos celeiros dos senhores de Ábydos, Escriba das ofertas divinas dos Senhores de Tebas, Amado Senhor do Norte e do Sul.

 

Sua esposa, Thouthou, era “Senhora da Casa das Adorações ou Cantores de Amón” (um título usado regularmente por damas de alta patente do Novo Império), e pode-se vê-la nas ilustrações portando sempre o sistro e o colar menat, instrumentos emblemáticos de seu ofício. Como muitas vezes, nos epitáfios, ele é amado pelo senhor do país duplo, sem que seja possível identificar esse rei.

 

Máximas de Ani

  • “A ruína de um homem reside em sua língua; acautela-te para não prejudicar a ti mesmo”.

  • “Busca para ti o silêncio”.

  • “O homem que pronuncia palavras avessas não pode esperar atos de bondade dos demais”.

  • “O coração de um homem é como um depósito de grãos, onde se armazenam respostas de todo tipo, escolhe as que são boas e expressa-te com elas, mas guarda cuidadosamente em teu interior as más”.

  • “Se vais por um caminho que tuas mãos constroem dia após dia, chegarás ao lugar aonde deves estar”.

  • “O santuário de Deus rejeita as demonstrações ruidosas. Eleva tua oração com o coração pleno de amor, mas mantém ocultas tuas palavras. Faça isso e Ele escutará tua voz. Escutará tuas palavras e receberá tua oferenda”.

  • “Deus engrandecerá o nome daquele que exalta suas muitas Almas, que lhe canta loas e inclina-se diante Dele, que lhe oferece incenso e rende homenagem com seu trabalho”.

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Âncora 5

ANKH SHESHONQ (100 a.C. – 30 a.C.)

 

 

 

 

 

 

Foi um prisioneiro político do final do período ptolomaico que viveu entre os anos de 100 a.C. e 30 a.C. O que restou de seus escritos foram condutas intituladas de “Instruções”; um papiro egípcio antigo que foi provisoriamente datado do período ptolomaico, embora o conteúdo possa ter origem mais antiga. Ele contém uma narrativa introdutória e uma lista de máximas sobre muitos tópicos, e seu estilo foi descrito como pragmático e bem-humorado. Começa com uma longa introdução que descreve o porquê as instruções foram escritas. Tem 28 páginas, com grandes danos e partes ausentes. Atualmente encontra-se no Museu Britânico.

 

O período ptolomaico se inicia após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. e termina com a morte de Cleópatra e a conquista romana em 30 a.C. O Reino Ptolomaico foi fundado por Ptolomeu I Soter em 304/5 a.C. (um general rival sucessor de Alexandre, originário da Macedônia) que se declarou faraó do Egito e criou uma poderosa dinastia grega da Macedônia, que governava uma área que se estendia do Sul da Síria à Cyrene (Líbia), e desta, ao Sul do Egito, na Núbia.

 

Ankh Sheshonq, filho de um sacerdote, Tjainufi, escreveu suas instruções enquanto esteve preso na Casa de Detenção de Daphnae sobre os cacos dos jarros que lhes foram trazidos com vinho misto. Foi preso por não ter matado um homem que conspirava contra o faraó. Recebeu muitos maus tratos e miséria, mas não foi morto, assim como os outros que conspiraram para matar o faraó.

 

Máximas de Ankh Sheshonq

  • “As riquezas dos gananciosos são cinzas sopradas pelo vento”.

  • “Adquirir avidamente é um mal que não tem fim”.

  • “A riqueza do homem generoso é maior que a dos gananciosos”.

  • “Não negligencie nada por medo de sofrer”.

  • “Quando a luz divina é denegrida por um país, ela faz com que as leis, a justiça e os valores acabem, e coloca os tolos no lugar dos sábios”.

  • “Não deixe que um ímpio e um medíocre dêem ordens às pessoas”.

  • “Não ensine quem não quer ouvir”.

  • “Não prejudiques um homem para que outro não prejudique a ti”.

  • “Não sejas duro de coração com um homem, se podes interceder por ele”.

  • “O amor pelo trabalho leva o homem próximo a Deus”.

  • “Seja ativo, faz mais do que deves... A atividade produz a riqueza, mas a riqueza não dura se a atividade relaxa”.

  • “A benção de um artesão são suas ferramentas de trabalho”.

  • “Não consultes a um homem sábio sobre um assunto pequeno, quando tens na mão um assunto importante”.

  • “Não consultes a um néscio sobre um assunto importante, quando podes consultar a um homem sábio”.

  • “Se as coisas vão bem, não te atormentes temendo que possam ir mal”.

  • “Não há ninguém que engane a outro e que, por sua vez, não seja enganado. Não há ninguém que siga pelo mau caminho e que prospere na vida.

  • “Não andes em círculo simplesmente para não permanecer imóvel. Não fujas quando te golpearem, por temor de que dupliquem teu castigo. Quem enfrenta com valentia uma desgraça, não sentirá todo o rigor de seu infortúnio”.

  • “Quando o coração e a linguagem estão sem falhas, direcionamos nossa vida”.

  • “Não procure o conselho de Deus para negligenciar o que Ele diz”.

  • “Não permitas que os ignorantes e tolos façam trabalho pelo qual são incompetentes”.

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