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FILOSOFIA INDIANA

O período entre o quinto e nono século da nossa era foi a mais brilhante época no desenvolvimento da filosofia indiana, hindu e budista; filosofias que floresceram lado a lado.

Textos Sagrados

Os escritos sagrados da cultura hindu, sobretudo os Vedas (os mais antigos textos sagrados da Índia), as Upaniṣhads e o Mahābhārata, há muito influenciam o pensamento filosófico indiano. Os hinos védicos, escrituras hindus datadas do segundo milênio antes da era cristã, são os mais antigos registros remanescentes, na Índia, do processo pelo qual a mente humana produz seus deuses, bem como do processo psicológico da produção de mitos, que leva a profundos conceitos cosmológicos.

 

As Upaniṣhads (tratados filosóficos indianos) contêm uma das primeiras concepções da realidade universal, onipresente e espiritual que conduzem ao monismo radical (absoluto não-dualismo, ou unidade essencial da matéria e do espírito). Também contêm antigas especulações dos filósofos indianos sobre a natureza, a vida, a mente e o corpo humanos, além de ética e filosofia social.

 

Sistemas Ortodoxos

Os sistemas clássicos, ou ortodoxos, chamados darśhanas, discutem questões como o status do indivíduo finito; a distinção, assim como a relação, entre corpo, mente e indivíduo; a natureza do conhecimento e os tipos de conhecimento válidos; a natureza e a origem da verdade; os tipos de entidades que se pode dizer que existem; a relação entre realismo e idealismo; a questão sobre se os universos ou as relações são básicos; e o importantíssimo problema do mokṣha, ou libertação, sua natureza e os caminhos que a ela conduzem.

 

As várias filosofias indianas apresentam, no entanto, tal diversidade de visões, teorias e sistemas, que se torna quase impossível distinguir características comuns a todas. A aceitação da autoridade dos Vedas caracteriza todos os sistemas ortodoxos (āstika): Nyāya, Vaiśheṣhika, Sāṁkhya, Yoga, Pūrva Mῑmāṁsā e Vedānta. Os sistemas não-ortodoxos (nāstika) entre eles o Chārvāka, o Budismo e o Jainismo, rejeitam a autoridade védica. Mesmo entre os filósofos ortodoxos, porém, a fidelidade aos Vedas limitou muito pouco a liberdade das especulações, e os Vedas podiam ser citados para legitimar uma vasta diversidade de ideias, fossem monistas ou atomistas.

 

Mῑmāṁsā, ou Pūrva Mῑmāṁsā, é o sistema que fornece regras para a interpretação dos Vedas e oferece uma justificativa filosófica para a observância do ritual védico. O Vedānta forma a base da maioria das escolas modernas do hinduísmo e seus principais textos são as Upaniṣhads e a Bhagavad-Gῑtā. Ao contrário do Mῑmāṁsā, é um sistema interessado na interpretação filosófica dos Vedas, mais que com seus aspectos ritualísticos.

 

Em sânscrito, Vedānta significa a “parte final ou conclusão (anta) dos Vedas”. Como eram muitas as interpretações, desenvolveram-se várias escolas de Vedānta que, no entanto, têm muitos pontos de vista em comum: transmigração do eu e o desejo de libertar-se do ciclo de renascimentos (saṁsāra); a autoridade dos Vedas como meio para essa libertação; Brahman como motivo da existência do mundo; e o ātman como agente de seus próprios atos e, portanto, receptor das consequências da ação, seus frutos (phala). Todas as escolas de Vedānta rejeitam tanto as filosofias heterodoxas do budismo e do jainismo como as conclusões das outras escolas ortodoxas. Sua influência no pensamento indiano é tão profunda que se pode dizer que, em qualquer de suas formas, a filosofia hindu se tornou Vedānta.

 

A Nyāya examina em profundidade o método de raciocínio conhecido como inferência. Essa escola é importante por sua análise da lógica e da epistemologia. Já o Vaiśheṣhika sobressai por suas tentativas de identificar, inventariar e classificar as entidades da realidade que se apresentam à percepção humana. A Sāṁkhya adota um dualismo coerente entre as ordens da matéria e as do eu, ou alma. Nessa escola, o conhecimento correto consiste na habilidade do eu de se distinguir da matéria. O Yoga influenciou muitas outras escolas por sua descrição da disciplina prática para realizar intuitivamente o conhecimento metafísico proposto pelo sistema Sāṁkhya, a que o Yoga está intimamente relacionada.

Destas várias escolas de pensamento, a não-dualista Advaita Vedānta emergiu como a mais influente e a escola mais dominante. Os principais filósofos dessa escola foram Gaudapada, Adi Shaṅkara e Vidyāranya.

 

Advaita Vedānta rejeita o teísmo e o dualismo (dvaita = dual; a = prefixo de negação), insistindo que Brahman, a realidade final sem partes ou atributos... um sem segundo. Uma vez que Brahman não tem propriedades, não contém diversidade interna e é idêntico com o conjunto da realidade, não pode ser entendido como Deus. Brahman, apesar de ser indescritível, é melhor descrito como Sacchidananda (Existência, Consciência, Plenitude) por Shaṅkara.

 

A escola de Advaita inaugurou uma nova era na filosofia indiana e, como resultado, muitas novas escolas de pensamento surgiram no período medieval.

 

Cada uma dessas escolas de pensamento foi sistematizada por meio dos conjuntos de sūtras (curtas sentenças que se ligam como um fio). Ao reunir um determinado número de aforismas, fórmulas ou regras breves e de fácil memorização, os sūtras resumem cada uma das doutrinas.

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Âncora 1
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Âncora 2

ŚHRῙ KṚIṢHṆA (3228 a.C. – 3102 a.C.)

 

O Senhor Śhrῑ Kṛiṣhṇa nasceu na dinastia Yadu, em aproximadamente 3228 a.C., e deixou este corpo em 3102 a.C. Ele parece ter inspirado tanto respeito que foi considerado uma encarnação humana da divindade na forma de Viṣhṇu e adorado como tal. Ainda não se sabe se Kṛiṣhṇa é, de fato, um personagem histórico ou mera figura mitológica. Mas, existem boas provas da sua existência em época tão remota como foi datada acima. Portanto, estas datas são simplesmente um registro da Sua encarnação em Dvāpara-yuga (a era antes da presente Era de Kali).

 

De acordo com o Bhagavata Purāṇa, Kṛiṣhṇa nasceu sem uma união sexual, mas por meio da "transmissão mental" ióguica da mente de Vāsudeva no ventre de Devakῑ. Baseado em dados das escrituras e cálculos astrológicos, a data de nascimento de Kṛiṣhṇa, conhecida como Janmāṣṭamῑ, é o dia 18 de julho de 3228 a.C. Kṛiṣhṇa pertencia ao clã Vṛiṣhṇi dos Yādavas, de Mathurā, capital dos clãs Vṛiṣhṇi, Andhaka e Bhoja. Foi o oitavo filho da princesa Devakῑ e seu marido Vāsudeva.

 

Ele instruiu a Bhagavad-Gῑtā a Arjuna, o Príncipe guerreiro, em Dvāpara-yuga, mas o período de suas atividades não limita a posição dele como o ādi-puruṣa (a Pessoa Suprema original) e o ādi-guru (o mestre original). Na literatura védica, o Senhor Kṛiṣhṇa é descrito como a fonte última de todo o conhecimento; consequentemente, ele é a fonte mais segura de conhecimento. O guru-parampara inteiro — a sucessão discipular — começa com Kṛiṣhṇa porque é o original e principal preceptor.

 

Kṛiṣhṇa foi aluno de Ghora Aṅgirasa, recebendo ensinamentos a respeito da indestrutibilidade do Ser (akṣhita), já que o verdadeiro Ser é inabalável (achyuta), além de ser a essência da vida (prāṇa). A instrução lembra o Yoga da hora da morte que Kṛiṣhṇa ensina na Bhagavad Gῑtā (8:11), em que é usado o termo imperecível (akṣhara), derivado da mesma raiz verbal de akṣhita, acima traduzido como “indestrutível”. Pouco se sabe sobre o mestre de Kṛiṣhṇa, embora se afirme que Ghora Aṅgirasa também é chamado Kṛiṣhṇa Aṅgirasa, e que provavelmente compôs o hino 8:74 do Rig-Veda, que canta o elogio do fogo dos sacrifícios, ou seja, a disciplina que arde e queima o apego causado pela ignorância, quando realizamos algo sagrado, devotado ao Supremo.

 

Seus ensinamentos estabeleciam uma relação entre a divindade e o Sol. Forte ligação com o Sol também se estabelece por meio de Ghora Aṅgirasa, que pertencia ao clã dos Bhārgavas.

 

O Mahābhārata, o grande épico hindu que significa “Grande Bhārata” (antigo nome da Índia), claramente identifica Kṛiṣhṇa como o governante da tribo Vṛiṣhṇi e da altiva cidade de Dvārakā, que afundou no oceano – provavelmente em razão de um fortíssimo terremoto, fenômeno que não era incomum naquela região do noroeste da Índia. Esse acontecimento é efetivamente mencionado na grande epopeia, e as ruínas de uma cidade, identificada por um dos maiores arqueólogos da Índia como a antiga Dvaraka, foram encontradas ao largo da região tradicionalmente atribuída aos Vṛiṣhṇis.

 

A Bhagavad Gῑtā

A Bhagavadgῑtā é o texto filosófico do hinduísmo sobre vida, morte, amor e dever mais conhecido no ocidente. Bhagavat significa “aquele que possui a riqueza”, o Senhor; a palavra Gῑtam, neutra, significa “canção”. A palavra conjunta Bhagavadgῑtā, onde o ‘t’ se transforma no ‘d’ por razão fonética, significa “A Canção do Senhor” e se torna feminina, porque é um texto que nutre a nossa alma. Nas línguas ocidentais, para que se tenha clareza, costuma-se separa-la em Bhagavad Gῑtā ou simplesmente Gῑtā.

 

Alguns pesquisadores referem-se ao texto como tendo sido compilado por Vyāsa, entre os séculos V e II a.C. outros argumentam que foi inserida no Mahābhārata posteriormente. Kṛiṣhṇa, ao instruir seu discípulo Arjuna, fê-lo verbalmente, ficando a autoria, tanto do Mahābhārata como da Gῑtā, àquele que transcreveu, portanto, Vyāsa. Essa preocupação em estabelecer datas e autoria de trabalhos é tipicamente ocidental, pois vemos o indivíduo separado do todo.

 

A Gῑtā contém a essência interior da Índia, os princípios morais e espirituais encontrados nas mais antigas escrituras dessa antiga terra. Ler a Bhagavad Gῑtā é voltar a priscas eras; mesmo assim, à medida que se penetra em seus ensinamentos, percebe-se quão próximos e familiares eles são. Conforme se estuda a Gῑtā envolve-se de tal maneira nessa antiga, porém atual, escritura, que minuciosamente trabalha-se do princípio ao fim cada um dos seus setecentos versos. A mensagem da Gῑtā é cheia de conceitos espirituais profundos e, por vezes, intrincados.

 

Os ensinamentos da Bhagavad Gῑtā estão dispostos, de forma didática, nos diálogos entre Kṛiṣhṇa e Arjuna, com seus questionamentos e dúvidas, em três partes, em um total de 18 capítulos. Na primeira parte, Kṛiṣhṇa nos faz conhecer nosso verdadeiro Eu interior e os caminhos e mecanismos do reto agir. Na segunda, ele nos mostra a verdadeira natureza de Deus, o Universo e como se relacionar com Deus. Finalmente, na última parte, Kṛiṣhṇa nos ensina como alcançar a libertação, através do discernimento e do tríplice caminho do conhecimento (o saber), da ação (o ousar) e do amor (a entrega silenciosa).

 

Frases

  • Conhece a paz quem esqueceu o desejo de sentir prazer.

  • A mente funciona como um inimigo para aqueles que não a controlam.

  • Tudo o que vive, vive para sempre. Somente o invólucro, o que é perecível, desaparece. O espírito não tem fim. É eterno. Imortal.

  • Quando você compreende o sentido da renúncia, aprende a amar. É nesse momento que a felicidade genuinamente se apodera do seu coração.

  • O reino da quietude que os sábios conquistam pela meditação é também conquistado pelos que praticam ações; sábio é aquele que compreende que essas duas coisas – a consciência mística e a ação prática – são uma só em sua essência.

  • Aquele que não controla suas paixões não pode agir apropriadamente perante os outros.

  • Os males infligidos aos outros seguem-nos, tal como sombras seguindo nossos corpos.

  • A virtude sustenta o Espírito assim como os músculos sustentam o corpo.

  • Sobre todas as coisas, cultive o amor ao próximo.

  • Trazes em ti próprio um amigo sublime que não conheces, pois Deus reside no interior de todo homem, porém poucos sabem achá-lo.

  • Para atingir a perfeição, cumpre conquistar a ciência da Unidade, que está acima de todos os conhecimentos, é preciso elevar-se ao Ser divino, que está acima da alma e da inteligência. Esse Ser divino está, também, em cada um de nós.

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Âncora 3

SIDDHĀRTHA GAUTAMA - BUDDHA (563 a.C. – 483 a.C.)

 

Siddhārtha Gautama (em pali, Siddhāttha Gotama), popularmente chamado de Buda ou Buddha (O Desperto), foi um príncipe de uma região ao sul do atual Nepal que, tendo renunciado ao trono, se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma encontrou um caminho até ao "despertar" ou "iluminação". Após o que se tornou mestre ou professor espiritual, fundando o budismo.

 

Na maioria das tradições budistas, é considerado como o "Supremo Buda" (Sammāsambuddha) de nossa era. A época de seu nascimento e a de sua morte são incertas: na sua maioria, os primeiros historiadores do século XX datavam seu tempo de vida por volta de 563 a.C. a 483 a.C.; mais recentemente, contudo, num simpósio especializado nesta questão, a maioria dos estudiosos apresentou opiniões definitivas de datas dentro do intervalo de 20 anos antes ou depois de 400 a.C. para a morte do Buda, com outros apoiando datas mais tardias ou mais recentes.

 

Gautama, também conhecido como Śhākyamuni ("sábio do clã dos Shākyas") é a figura-chave do budismo: os budistas creem que os acontecimentos de sua vida, bem como seus discursos e aconselhamentos monásticos, foram preservados depois de sua morte e repassados para outros povos pelos seus seguidores. Uma variedade de ensinamentos atribuídos a Gautama foram repassados através da tradição oral e, então, escritos cerca de 400 anos após a sua morte.

 

Concepção e nascimento

Siddhārtha nasceu em Lumbinī, no atual Nepal, e foi criado no pequeno reino ou principado de Kapilavastu, território atualmente dividido entre Nepal e Índia. Na época do nascimento de Buda, a área estava na fronteira ou além da civilização védica, a cultura dominante no norte da Índia naquele tempo. É mesmo possível que a sua língua materna não fosse uma língua indo-ariana. Os textos antigos sugerem que Gautama não estava familiarizado com os ensinamentos religiosos dominantes do seu tempo até que partisse em sua busca religiosa, que foi motivada por uma preocupação existencial com a condição humana. Naquele tempo, uma multidão de pequenas cidades-estado existiam na Índia Antiga, chamadas Janapadas. Repúblicas e chefias com poder político difuso e limitada estratificação social não eram raros e eram chamados de gana-sangas. A comunidade de Buda não parece ter tido um sistema de castas. Não era uma monarquia e parece ter sido estruturado ou como uma oligarquia ou como uma forma de república. A forma mais igualitária de governo das gana-sangas, como uma alternativa política aos reinos fortemente hierarquizados, pode ter influenciado o desenvolvimento de shramanas (monges errantes) jainistas e sanghas budistas, enquanto que as monarquias tendiam para o bramanismo védico.

 

Segundo a biografia tradicional, o pai de Buda foi o rei Shuddhodana, líder do clã Shākya, cuja capital era Kapilavastu, e que foi posteriormente anexado pelo crescente reino de Koshala durante a vida de Buda. Gautama era o nome de família. Sua mãe, rainha Mahā Māyā (Māyādevī) e esposa de Shuddhodana, era uma princesa Koliyan. Como era a tradição shākya, quando sua mãe, a rainha Māyā, ficou grávida, ela deixou Kapilavastu e foi para o reino de seu pai para dar à luz. No entanto, ela deu à luz no caminho, em Lumbinῑ, em um jardim debaixo de uma árvore de Shorea robusta. Na noite que Siddhārtha foi concebido, segundo biografias tradicionais, a rainha Māyā sonhou que um elefante branco com seis presas brancas entrou em seu lado direito, e, dez meses mais tarde, Siddhārtha nasceu. "Siddhartha" (em Pāli: Siddhattha) quer dizer "aquele que atinge seus objetivos". "Gautama" significa "condutor de gado" (gau, gado + tama, condutor). Outro registro relatado nas biografias tradicionais é a de que, durante as celebrações de seu nascimento, o eremita Asita, retornando de uma viagem às montanhas, anunciou que a criança iria se tornar ou um grande rei chakravartin ou um homem santo.

 

O dia do nascimento de Buddha é celebrado mundialmente, principalmente nos países de tradição Theravada, e conhecido como Festival de Vesak.

 

Juventude e casamento

Siddhārtha foi educado pela irmã mais nova de sua mãe, Mahā Prajāpatῑ. Por tradição, ele deveria ter sido destinado por nascimento para a vida de um príncipe, e tinha três palácios (por ocupação sazonal) construídos para ele. O seu pai, Śuddhodana, desejando para o seu filho o destino de ser um grande rei e preocupado com extravio do filho desse caminho, segundo relatos biográficos, tentou proteger o filho dos ensinamentos religiosos e do conhecimento do sofrimento humano.

 

Quando chegou a idade de 16 anos, seu pai arranjou-lhe um casamento com uma prima da mesma idade chamada Yashodhara (Pāli: Yasodhara). Segundo o relato tradicional, ela deu à luz um filho, chamado Rahula. Siddhārtha teria passado então 29 anos de sua vida como um príncipe em Kapilavastu. Embora seu pai garantisse que Siddhārtha fosse fornecido com tudo o que ele poderia querer ou precisar, escrituras budistas dizem que o futuro Buda sentiu que a riqueza material não era o objetivo final da vida.

 

Partida e vida ascética

Com a idade de 29 anos, de acordo com as biografias populares, Siddhārtha saiu de seu palácio para encarar suas inquietações. Apesar dos esforços de seu pai para escondê-lo dos doentes, moribundos e do sofrimento presentes no mundo, Siddhārtha teria visto um homem velho. Quando seu cocheiro Chandaka explicou para ele que todas as pessoas envelheciam, o príncipe partiu para viagens para mais além do palácio. Nesses encontros, avistou um homem doente, um corpo em decomposição e um asceta. Estas visões o deprimiram e marcaram profundamente, o que lhe deu motivos para o esforço de tentar superar a doença, velhice e a morte através do ascetismo.

 

Acompanhado por Chandaka e por seu cavalo Kanthaka, Gautama deixou seu palácio para a vida de um mendicante. Diz-se que os "cascos do cavalo eram abafados pelos deuses" para impedir que os guardas soubessem de sua partida. Gautama inicialmente foi para Rajagaha e começou sua vida ascética pedindo esmolas na rua. Tendo sido reconhecido pelos homens do rei Bimbisara, este ofereceu-lhe o trono após a audição da busca de Siddhārtha. Siddhārtha rejeitou a oferta, mas prometeu visitar o seu reino de Mágada primeiro, depois de alcançar a iluminação.

 

Ele deixou Rajagaha e praticou sob a orientação de dois professores eremitas. Depois de dominar os ensinamentos de Alara Kalama, ele foi convidado por Kalama para sucedê-lo. No entanto, Gautama se sentia insatisfeito com a prática e mudou-se para se tornar um estudante de Udraka Rāmaputra. Com ele, alcançou altos níveis de consciência meditativa e foi novamente convidado a suceder a seu professor. Mas, mais uma vez, ele não estava satisfeito e mudou-se novamente.

 

Siddhārtha e um grupo de cinco companheiros, liderados por Kaundinya, tomaram austeridades ainda maiores nas práticas yogis. Eles tentaram encontrar a iluminação através da privação de bens materiais, incluindo a alimentação, praticando a automortificação. Depois de quase passar fome até a morte, restringindo a sua ingestão de alimentos para cerca de uma folha por dia, ele caiu em um rio durante o banho e quase se afogou. Siddhārtha começou a reconsiderar seu caminho. Então, lembrou-se de um momento na infância em que tinha estado a observar seu pai a arar o campo. Ele atingiu um estado concentrado, focado, feliz e abençoado: em pali, jhana; em sânscrito, dhyāna.

 

Iluminação

De acordo com os textos mais antigos, após ter alcançado o estado meditativo de jhana, Gautama estava no caminho certo para a iluminação. Mas o seu ascetismo extremo não funcionou e Gautama descobriu o que os Budistas chamaram de o Caminho do Meio, o caminho para a moderação, afastado dos extremismos da autoindulgência e da automortificação. Em um famoso incidente, depois ter ficado extremamente fraco devido à fome, é dito que ele aceitou leite e pudim de arroz de uma garota chamada Sujātā. Tal era a aparência pálida de Siddhārtha, que Sujātā teria acreditado, erroneamente, que ele seria um espírito que lhe realizaria um desejo.

 

Seguindo este incidente, Gautama sentou-se sob uma árvore (segundo a tradição budista, a árvore era uma Ficus religiosa), conhecida agora como a Árvore de Bodhi, em Bodh Gaya e jurou nunca mais se levantar enquanto não tivesse encontrado a verdade. Kaundinya e outros quatro companheiros, acreditando que ele tinha abandonado a sua busca e se tornado um indisciplinado, o deixaram para trás. Após 49 dias de meditação e com a idade de 35 anos, é dito que Gautama alcançou a iluminação espiritual. Segundo algumas tradições, isto ocorreu em aproximadamente quinze meses lunares, enquanto que, de acordo com outras tradições, o fato ocorreu em doze meses. Desde este tempo, Gautama ficou conhecido por seus seguidores como o Buda, termo derivado do sânscrito buddha, que significa "desperto, iluminado, o que compreendeu, o que sabe". Ele é frequentemente referido dentro do budismo como o Shākyamuni Buddha, ou "O Iluminado da tribo dos Shākya". Outro termo pelo qual Siddhārtha se tornou conhecido pelos seus contemporâneos foi Sugato, termo páli que, traduzido, significa "Feliz".

 

De acordo com o budismo, durante a sua iluminação, Siddhārtha compreendeu as causas do sofrimento e os caminhos necessários para eliminá-lo. Estas descobertas tornaram-se conhecidas como as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, que são o coração dos ensinamentos de Buddha. Com a realização dessas verdades, seguindo o caminho óctuplo, um estado de suprema liberação, ou nirvāṇa, é acreditado ser possível ao alcance de qualquer ser. O Buddha o descreve como um estado perfeito de paz mental livre de toda ignorância, inveja, orgulho, ódio e outros estados aflitivos, e também conhecido como o fim do ciclo de saṁsāra (nascimentos e mortes), em que nenhuma identidade pessoal ou limites da mente permanecem.

 

A primeira nobre verdade refere-se à realidade do sofrimento (dukkha):

"Nascimento, envelhecimento, enfermidade e morte são sofrimentos; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que não é prazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco aspectos que constituem o ser senciente influenciados pelo apego são sofrimento."

 

A segunda nobre verdade refere-se à realidade da origem do sofrimento (samudaya):

"É este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensoriais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir."

 

A terceira nobre verdade refere-se à realidade da cessação do sofrimento (nirodha):

“É o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele."

 

A quarta nobre verdade refere-se à realidade do caminho (magga) para cessar o sofrimento:

“É este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."

 

De acordo com a história do Āyācana Sutta (Samyutta Nikaya VI.1) - uma escritura, escrita em pali - e outros canônes, imediatamente após sua iluminação, o Buddha debateu se deveria ou não ensinar o dharma aos outros. Ele estava preocupado que os humanos, tão fortemente influenciados pela ignorância, inveja e ódio, poderiam nunca reconhecer o caminho, que é profundo e difícil de ser compreendido. No entanto, segundo o mito, Brahmā Sahampati tê-lo-ia convencido a ensinar a doutrina, argumentando que pelo menos alguns iriam entendê-lo. O Buda, após isso, concordou em ensinar o dharma (em pali, dhamma).

 

Ensinamentos

Buddha jamais compilou nem escreveu seus ensinamentos. Somente muitos anos após sua morte, foi estruturado e escrito seus ensinamentos, pelos seus discípulos. Esses ensinamentos estão organizados no cânone pali, que recebeu o nome pali de Tipitaka (ti = três; pitaka = cesto). É a principal coleção de textos em pali que constitui a base doutrinária do Budismo Theravada, em um extenso conjunto literário. As três divisões da Tipitaka são:

  • Vinaya Pitaka (preceitos morais)

A coleção de textos referente às regras de conduta que regula o dia a dia da Sangha – a comunidade de bhikkhus (monges ordenados) e bhikkhunis (monjas ordenadas). Muito mais do que apenas uma lista de regras, o Vinaya Pitaka também inclui as estórias que estão por trás da origem de cada regra, relatando em detalhe a maneira como o Buddha solucionou a questão de como manter a harmonia comunitária em uma ampla e diversa comunidade espiritual.

  • Sutta Pitaka (ensinamentos)

A coleção dos discursos que são atribuídos ao Buddha e alguns dos seus discípulos mais próximos, contendo todos os ensinamentos centrais. Está dividido em 5 coleções (Nikāya): Digha, Majjhima, Samyutta, Anguttara e Khuddaka. Este último Nikāya está dividido em 6 partes: Khuddakapatha, Udana, Itivuttaka, Sutta Nipata, Dhammapada e Theragata.

  • Abhidhamma Pitaka (psicologia e filosofia)

A coleção de textos em que os princípios doutrinários apresentados no Sutta Pitaka são retrabalhados e reorganizados em um modelo sistemático que pode ser empregado para investigar a natureza da mente e da matéria.

 

Pregação

Após ter criado sua doutrina, Siddhārtha percorreu o país pelos 45 anos seguintes, difundindo-a. Teve grande aceitação por uma grande parte da população, havendo episódios de professores de outras linhas, juntamente com todos os seus discípulos, converterem-se em alunos seus. Também houve inimigos que tentaram detê-lo, normalmente Brâmanes que viam sua religião e seu status social ameaçados pela nova doutrina. Siddhārtha enfrentou a oposição também de seu primo Devadatta, que, apesar de ter se tornado seu discípulo, posteriormente quis superar Siddhārtha e tomar-lhe o controle da sangha.

Morte

Siddhārtha morreu aos oitenta anos de idade, na cidade de Kushinagar, no atual estado de Uttar Pradesh, na Índia. Seu corpo foi cremado por seus amigos, sob a orientação de Ananda, seu assistente pessoal. As suas cinzas foram repartidas entre vários governantes, para serem veneradas como relíquias sagradas.

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Âncora 4

ŚHAṄKARA (788 d.C. – 820 d.C.)

Foi um metafísico, teólogo, monge errante e mestre espiritual indiano. Foi o principal formulador doutrinal do Advaita Vedānta, ou Vedānta não-dualista. Segundo a tradição, foi uma das almas mais excelsas que já encarnaram neste planeta, chegando a ser considerado uma encarnação do Deus hindu Śhiva. Sua vida encontra-se envolta em mistérios e prodígios que a tornam semelhante às de outros insignes mestres espirituais da humanidade, como Jesus, Moisés e Buda. Diferentemente destes, contudo, Śhaṅkara não foi o fundador de uma religião, mas o renovador de uma, no caso o Hinduísmo.

 

Não se sabe ao certo onde e quando nasceu. Alguns o fazem aparecer no século II a.C., já outros fazem a data avançar ao século X. Para teósofos como T. Subba Row, ele nasceu em 510 a.C., conforme inscrições encontradas em Conjiveram, Śhringeri, Jagannātha, Benares e Kashmῑr. Existe a tendência, entre os orientalistas europeus, de situar seu nascimento em torno do século VIII da era Cristã. Igualmente, o local de seu nascimento é objeto de disputas, sendo indicadas as povoações de Śhringeri, Sasalagrama, Cidambarapura, Kalati e, por fim, Kalpi.

 

Sivaguru e Aryamba, seus futuros pais, há muito desejavam um filho. Então, conforme a história, Śhiva lhes apareceu em sonho, perguntando se desejavam um único filho, que seria o mestre mais brilhante de sua geração, mas morreria jovem, ou muitos rebentos, todos, porém, medíocres. Optando pela primeira alternativa, nasceu então Śhaṅkara. A tradição oral relata a ocorrência de diversos prodígios na ocasião de seu nascimento, como o congraçamento de feras anteriormente hostis entre si, a emanação sobrenatural de fragrâncias por árvores e outras plantas, a audição de cantos celestiais e outros fenômenos que espelhariam a alegria da natureza e dos deuses com seu nascimento.

 

Narra-se que com apenas um ano de vida teria aprendido o alfabeto sânscrito, aos dois já saberia ler e, aos três, teria estudado os Kavyas e os Purāṇas. Com sete anos, suas luzes já eram tantas que deixou o professor e voltou para casa. Ainda na infância, começou a operar milagres, curando a mãe e provocando a cheia de um rio.

 

Na mesma época, o sábio Agastya profetizou à mãe de Śhaṅkara que seu filho não ultrapassaria os 32 anos de vida. Percebendo a fragilidade do mundo material, Śhaṅkara decidiu assumir a vida de asceta errante. Encontrando a objeção materna, venceu a oposição com outro milagre. Tendo ido banhar-se em um rio, seu pé foi abocanhado por um crocodilo. Acorrendo a mãe ao local, foi-lhe dito que a fera não o soltaria se ela não concordasse com o propósito do jovem, e então ela cedeu.

 

Sua trajetória

Após deixar a mãe aos cuidados de parentes, e já não tendo pai, partiu Śhaṅkara em perambulação por florestas e cidades, até chegar à caverna onde Govinda Yati estabelecera seu refúgio. Solicitando admissão como discípulo, foi aceito, e aprendeu sobre Brahman através de quatro motes:

  • O conhecimento é Brahman;

  • Esta alma é Brahman;

  • Tu és Aquele; e

  • Eu sou Brahman.

 

Logo após ser aceito, estando seu mestre em profunda meditação, absorto do mundo, Śhaṅkara produziu outro milagre, acalmando uma furiosa tempestade que se desencadeara sobre o local. Despertando Govinda de sua meditação, e percebendo o que o jovem discípulo fizera, felicitou-o, abençoou-o e recomendou que fosse à cidade santa de Benares pare receber as bênçãos da Divindade, despedindo-o com a exortação: "Por teu feito glorioso, vai então, e começa a salvar a humanidade".

 

Chegando a Benares, passou ele também a aceitar discípulos, apesar de ainda não ter passado dos doze anos de idade. O primeiro foi Sānanda (Padma-pāda), que seria seu favorito. Provavelmente houve muitos outros, mas só nos chegaram os nomes de mais três: Sureśhvara, Totaka (ou Trotaka), e Hastamalaka. Śhaṅkara transferiu-se então para Badari, à margem do Ganges, onde compôs sua obra-prima, um comentário sobre os Brahma-sūtras. Outras obras se seguiram, como os comentários sobre as Upaniṣhads e sobre outras obras clássicas indianas.

 

Depois destes feitos, Śhaṅkara passou a ser largamente conhecido, atraindo a admiração de muitos seguidores, e também a inveja e fúria assassina de inimigos. Nas muitas disputas filosóficas em que entrava, saía sempre vitorioso, incluindo na que travou com o sábio Vyāsa, que lhe apareceu disfarçado como um idoso brâmane. Após oito dias de debate, atestando o profundo conhecimento do jovem, Vyāsa concedeu-lhe dezesseis anos adicionais à sua perspectiva de vida, a fim de que ele completasse seu trabalho de reformar o hinduísmo.

 

Daí em diante, Śhaṅkara passou de cidade em cidade, e de vitória em vitória em todas as querelas filosóficas, e operando ainda diversos outros milagres, como o de entrar na casa de Maṇḍana Miśhra (ou Viśhvarūpa) pelos ares. Maṇḍana Miśhra era um grande filósofo, com o qual disputou, vencendo-o e chamando-o de discípulo. A esposa dele, Bharati, considerada uma encarnação de Sarasvatῑ, também foi instada a debater, sendo vencida em todos os pontos salvo um, a respeito da natureza do amor, tema com o qual o jovem Śhaṅkara não tinha familiaridade alguma, tendo sido um asceta celibatário por toda a vida. Entretanto, pediu à deusa um adiamento de um mês, a fim de que pudesse encontrar a resposta requerida, e partiu.

 

A oeste da cidade deparou-se com uma multidão que estava a prantear um rei, Arnaruka, recentemente falecido. Decidido a aproveitar a oportunidade, confiou seu próprio corpo ao cuidado dos seus discípulos, e em segredo fez sua alma entrar no corpo do rei morto, que despertou novamente para a vida, sem, entretanto, revelar sua verdadeira identidade. A multidão, em júbilo, levou-o de volta ao palácio real, onde o asceta disfarçado de rei entregou-se aos braços da esposa do defunto, com o objetivo de aprender tudo sobre a Ciência do Amor, o que fez com tal brilhantismo que pôde escrever um tratado sobre o tema. Porém, percebendo todos que seu "rei" voltara à vida muito mais sábio do que quando dela partira há tão pouco tempo, começaram a suspeitar de um possível intercâmbio de almas, e ordenou-se, sem seu conhecimento, que todos os cadáveres do reino fossem imediatamente cremados.

 

Enquanto isso, seus discípulos, tendo transcorrido um tempo maior do que o previsto para seu retorno, iniciaram sua busca, e acabaram por chegar à cidade real, onde ouviram a história da ressurreição do velho rei e, com cantos e lamentos, tocaram a consciência interna de Śhaṅkara, fazendo-o abandonar o corpo emprestado. Retomando o seu, que neste momento já estava sendo entregue às chamas, conforme a ordem dos ministros (ou da própria viúva, segundo outras versões) do rei, voltou então à casa de Maṇḍana, respondeu à pergunta de Sarasvatῑ e converteu Maṇḍana ao vedantismo.

 

Voltando a perambular, soube que sua mãe estava à beira da morte e acorreu ao seu encontro, tranquilizando-a na hora do desenlace. Sendo impedido por seus parentes de oficiar os ritos de cremação, por ser um asceta, não obstante ele emitiu um fogo de sua mão que incinerou o corpo da mãe.

 

Depois disso, o sábio continuou em suas peregrinações, visitando diversos reinos, estabelecendo templos, reformando antigos cultos e debatendo incansavelmente com todos os grandes luminares que encontrou, corrigindo os erros que maculavam a pureza da doutrina Hindu. Ouvindo falar de um templo em Caxemira que só podia ser aberto por um ser onisciente, para lá se dirigiu a fim de abrir sua porta sul, a única que ainda permanecia fechada. Sendo examinado pelos doutores, foi considerado apto e, estando prestes a assumir sua cátedra, foi novamente interpelado por Sarasvatῑ. A deusa objetou dizendo que só um indivíduo imaculado poderia ocupar aquela cadeira, aludindo à experiência carnal que ele tivera no corpo do rei falecido. Em resposta, Śhaṅkara argumentou que ele não poderia ser responsável pelos pecados de um outro corpo, com o que Sarasvatῑ deu-se por satisfeita, permitindo-lhe a apoteose.

 

Após outras peregrinações, acabou seus dias conforme havia sido profetizado, com 32 anos, subindo aos céus, como diz a lenda, cercado de deuses e sábios que cantavam a palavra "Vitória".

 

Sua sabedoria

Os escritos de Śhaṅkara têm uma grande lucidez e profundidade, penetrante insight e grande habilidade analítica. Apesar disso, sua abordagem dos temas é mais religiosa e psicológica do que puramente lógica, o que o torna, na apreciação contemporânea, mais um grande reformador religioso do que um filósofo. Sua obra trai um grande conhecimento do saber Bramânico ortodoxo da época, bem como do budismo mahāyāna. Muitas vezes, tem sido criticado como um budista disfarçado, pela similitude de sua doutrina com aquela do Buda. Mesmo assim, combateu muitos pontos da doutrina Budista ou adaptou-os à sua interpretação advaita do Vedānta.

 

Na época de Śhaṅkara, o hinduísmo havia se modificado muito sob a influência do budismo e do jainismo. Śhaṅkara enfatizou a importância dos Vedas, recuperando, dessa forma, a pureza doutrinal do hinduísmo. Sua teologia sustenta que a ignorância espiritual (avidyā) é causada pela visão de um eu onde não existe eu algum.

 

Śhaṅkara propôs que embora o universo dos fenômenos seja de fato experimentado, não obstante ele não é a verdadeira realidade. Não renega o universo, mas diz que a verdade derradeira é Brahman, que está além do tempo, do espaço e da cadeia de causação. Apesar de ser a causa eficiente do universo, Brahman não se encontra limitado por esta sua autoprojeção, transcendendo toda dualidade ou pares de opostos (donde provém o termo advaita, ou não dual). O indivíduo deve entender sua verdadeira natureza e ser, que não é a mudança e a mortalidade, mas sim a beatitude eterna. Para compreendermos o verdadeiro motivo de nossos atos e pensamentos devemos despertar para a unidade do ser. Já que a mente limitada do indivíduo não pode abarcar o Eu universal ilimitado, a mente individual deve ser transcendida para conseguirmos a união com a consciência universal.

 

Śhaṅkara ensinou que a verdade deve ser atingida pela meditação sobre o amor divino. Sua maior lição é que a razão e a filosofia abstrata não são suficientes para aquisição da liberdade (mokṣha), sendo imprescindível o altruísmo (a negação do eu pessoal) e o amor orientado pela discriminação (viveka). A acusação de influência Budista é negada com a refutação da negação do ser (śhūnyatā) dos Budistas, acreditando que o Brahman não manifesto se manifesta efetivamente como Ῑśhvara, o ser excelso e perfeito que é adorado sob vários nomes.

 

O Advaita e seu fundador

O Advaita Vedānta é uma doutrina filosófica hindu centrada na noção de não dualidade (a significa "não", dvaita significa "dual") entre o mundo e o absoluto, e na consciência de que a única coisa que realmente existe é Brahman. Além de negar a realidade autônoma do mundo fenomênico, o Advaita defende que não existe uma real oposição entre o Eu e Brahman, sendo eles um único ser. Sua origem estaria nos ensinamentos de Gauḍapāda, mas, de fato, é com Śhaṅkara que o Advaita é fundamentado e consolidado. Muitos ocidentais, assim como inúmeros indianos, consideram Adi Śhaṅkara como o maior dos filósofos hindus. É comparado por muitos autores a Platão, São Tomás de Aquino, Espinosa e Hegel em função da profundidade e estilo de sua metafísica.

 

Suas obras podem ser classificadas em três tipos: comentários aos Upaniṣhads, aos Brahma Sūtras e ao Bhagavad Gῑtā; tratados filosóficos e hinos religiosos. Os comentários tencionam buscar na literatura hindu anterior os fundamentos das teses do Advaita e, paralelamente, interpretar tais escritos na perspectiva do próprio Śhaṅkara.

 

Já os tratados possuem um caráter metodológico e didático, visando aos estudantes da doutrina e apresentando as dificuldades no entendimento do Advaita e as maneiras de superá-las. Por fim, os hinos religiosos limitam-se a devoção e glorificação da divindade.

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Âncora 5

HELENA PETROVNA BLAVATSKY (1831 – 1891)

Helena Petrovna Hahn nasceu na Rússia, em uma província ao sul chamada Ekaterinoslav, no dia 12 de Agosto de 1831, segundo o calendário russo. Seu nascimento foi prematuro e, devido alguns incidentes, pressagiaram uma existência tumultuada. Morreu em Londres, em 8 de Maio de 1891.

Descendente de uma família da nobreza russa, com tradição e dignidade por toda a Europa, Helena foi uma filha desobediente e rebelde, burlando os protocolos, porém, sem manchar a honra da família.

A natureza de Helena evidenciava uma grande e inata capacidade psíquica, tornando-se uma característica tão forte, que facilmente demonstrava sua habilidade de se comunicar com o mundo espiritual. Essa capacidade natural foi posteriormente educada e desenvolvida ao longo de sua vida. Sua esmerada educação, devido a posição social de sua família, fê-la adquirir senso científico e faculdades literárias, tomando gosto pelo estudo das línguas e uma brilhante musicista.

Em 1848, aos 17 anos, foi imposta a um casamento com o general Blavatsky, homem com idade avançada, a qual não lhe agradou. Após três meses de casada, abandonou o marido e fugiu para a casa de familiares, onde foi forçada a voltar para a casa de seus pais. Temerosa de ser obrigada a voltar para o casamento, fugiu novamente, quando então começou o período de suas aventuras pelo mundo. Apesar do incidente, manteve contato com seu pai, que a ajudou financeiramente.

Em 1851, agora como Madame Blavatsky ou H. P. B., encontrou pela primeira vez, fisicamente, seu Mestre, o Irmão Maior ou Adepto, tornando-se, definitivamente, sua fiel discípula. Sob seu comando, aprendeu a dirigir e canalizar suas forças psíquicas. Essa condução levou-a a diversas experiências extraordinárias, dentro do domínio da magia e do ocultismo.

Viajou por diversas partes do mundo, mas principalmente ao Himālaya. No Tibete, passou sete anos junto aos grandes mestres espirituais dos quais recebeu a incumbência de trazer a sua sabedoria milenar para o Ocidente. Ali passou anos, estudando nos Mosteiros que ainda conservavam os ensinamentos de alguns dos mais eruditos Mestres espirituais de tempos passados. Ali estudou a vida e as leis dos mundos internos, as regras que se deve cumprir para ter acesso a eles.

Devido ao seu carácter e sua sensibilidade extremamente fora do comum, foi uma das mulheres mais dinâmicas e influentes da sua época. Blavatsky reafirmou o divino, mas ofereceu caminhos de diálogo entre a ciência e a religião, combatendo o dogmatismo e a superstição das várias crenças e incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da fé cega através da razão.

Na companhia do coronel Henry Steel Olcott e de um grupo de intelectuais, em 17 de novembro de 1875 fundou, em Nova Iorque, a Sociedade Teosófica, com o objetivo de estudar e divulgar os conhecimentos perdidos pelo Ocidente, sob o lema em sânscrito: “Satyam nāsti para dharmaḥ” (Não há religião [caminho, virtude, doutrina] superior a verdade)

Deixou inúmeras obras escritas, entre as quais destacamos:

  • “Isis sem Véu”, escrita em 1877 e dividida em 4 volumes (português);

  • “A Doutrina Secreta”, escrita em 1888, publicada em 6 volumes (português);

  • “A Voz do Silêncio”, escrita no ano de 1889 em Fontainebleau, França.

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Âncora 6

VIVEKĀNANDA (1863 – 1902)

 

Nascido Narendranath Dutta foi o principal discípulo do místico do século XIX, Śhrῑ Ramakṛiṣhṇa Paramahamsa e fundador da Ordem Ramakṛiṣhṇa. É considerado uma figura chave na introdução do Vedānta e do Yoga no Ocidente, sobretudo na Europa e América. É também creditado pelo crescimento da consciência inter-religiosa, trazendo a filosofia hindu para o status de uma das principais filosofias do mundo a partir do final do século XIX.

 

Os pais do Svāmῑ tiveram influência em seu pensamento – o pai por sua mente racional; a mãe por seu temperamento religioso. Narendranath, desde a infância mostrara inclinação para a espiritualidade e realização divina. Enquanto procurava por alguém que pudesse lhe mostrar diretamente a realidade de Deus, veio a conhecer Śhrῑ Ramakṛiṣhṇa, tornando-se seu discípulo, com quem estudou Advaita Vedānta (não-dualismo) e que todas as religiões são verdadeiras. Também lhe mostrou que o serviço ao homem era a forma mais efetiva de adorar a Deus. Depois da morte de seu Guru, Vivekānanda tornou-se monge errante, caminhando pelo subcontinente indiano e vendo, face a face, a condição Indiana. Mais tarde navegou para Chicago e representou a Índia como delegado no Parlamento das Religiões do Mundo. Orador eloquente que era, Vivekānanda foi convidado a diversos fóruns no EUA e falou em diversas universidades e clubes. Ele conduziu centenas de aulas e palestras, públicas e privadas, disseminando o Vedānta e o Yoga na América, Inglaterra e em alguns outros países na Europa. Também estabeleceu as “Vedānta Societies” (Sociedades de Vedānta) nos EUA e na Inglaterra. Voltando para a Índia, em 1897, fundou a Ordem Ramakṛiṣhṇa, com suas duas organizações irmãs, a Ramakṛiṣhṇa Mission (missão), com trabalhos filantrópicos e outra, Ramakṛiṣhṇa Math, a comunidade monástica. Ambas tendo como lema a autorrealização e o serviço ao mundo.

 

 

Nascimento e Infância

Svāmῑ Vivekānanda nasceu em Shimla Pally, Calcutá, em 12 de janeiro de 1863, durante o festival Makara Sankranti, em uma tradicional família Kayastha, e recebeu o nome Narendranath Dutta. Seu pai, Viśhvanath Dutta era advogado e tinha um posto na Alta Corte de Calcutá. Era visto como generoso e tinha uma visão progressiva em questões sociais e religiosas. Sua Mãe Bhuvaneśhvari Devi era piedosa e havia praticado austeridades e orado a Vireśhwar, o Śhiva de Varanasi, para dar-lhe um filho. De acordo com o relato, teve um sonho em que Śhiva levantou-se de sua meditação e disse que lhe daria um filho.

 

O pensamento e a personalidade de Narendranath foram influenciados por seus pais – a mãe por seu temperamento religioso e o pai por sua mente racional. Da sua mãe ele aprendeu a força do autocontrole nos dizeres: “Permaneça puro por toda sua vida; guarda tua honra e nunca transgrida a honra de outros. Sê muito tranquilo, mas quando necessário, endureça o coração”. Relata-se que era adepto da meditação e podia entrar no estado de samādhi. Do mesmo modo diz-se que ele via uma luz enquanto caia no sono e também que tivera uma visão de Buddha durante sua meditação. Na infância, tinha grande fascinação por monges e ascetas errantes.

 

Narendranath tinha saberes variados, uma ampla gama de conhecimentos em filosofia, religião, história, ciências sociais, entre outros temas. Demonstrou também muito interesse nas Escrituras: Vedas, Upaniṣhads, Bhagavad Gῑtā, Ramāyana, Mahābhārata e Purāṇas. Era também versado em música clássica, tanto vocal como instrumental e, diz-se, passou por treinamento junto a dois Ustads (título honorífico a músicos reconhecidos na Índia – Beni Gupta e Ahamad Khan). Desde a infância ele teve um ativo interesse em esportes, exercícios físicos e outras atividades organizacionais. Mesmo quando novo, questionou a validade de costumes supersticiosos, a discriminação de casta. Recusou-se a aceitar qualquer coisa sem prova racional e teste pragmático. Narendranath aprendeu Hindi em Raipur e, pela primeira vez, a questão sobre a existência de Deus surgiu em sua mente. É dito que neste período de sua vida teve uma experiência de êxtase espiritual.

 

Educação

Narendranath começou sua educação em casa e, mais tarde, integrou-se a várias instituições de ensino. Ao longo do curso estudou a lógica e filosofia ocidental, além de história das nações europeias. Em 1881 ele passou o exame de “Fine Arts”, ingressando em seu bacharelado, e em 1884 foi graduado como Bacharel de Artes. Narendranath estudou os escritos de David Hume, Immanuel Kant, Johann Gottlieb Fichte, Baruch Spinoza, Georg W. F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Auguste Comte, Herbert Spencer, John Stuart Mill, e Charles Darwin. Narendra tornou-se fascinado com o evolucionismo de Herbert Spencer, e traduziu seu livro “On Education” para o Bengali para Gurudas Chattopadhyaya, seu editor. Narendra chegou a se corresponder com Herbert Spencer por algum tempo. Enquanto estudava os filósofos ocidentais, ele teve um contato profundo com as escrituras indianas em Sânscrito e com muitos trabalhos em Bengali. Ele era tido como um śrutidhara – um homem de prodigiosa memória. Narendranath tornou-se membro de um grupo que se originou de uma dissidência do Brahmo Samaj, um influente movimento religioso na Índia. Suas crenças iniciais foram modeladas pelos conceitos do Brahmo Samaj, que incluíam a crença em um Deus sem forma e a desaprovação da adoração de ídolos. Não satisfeito com seu conhecimento filosófico, ele se indagava se Deus e religião poderiam fazer parte das experiências de crescimento do homem e ser profundamente internalizadas. Tomou conhecimento de Ramakṛiṣhṇa em uma aula de literatura na “General Assembly`s Institution, quando ele ouviu o Rev. W. Hastie abordando um poema e a natureza mística do poeta. Enquanto explicava a palavra transe no poema, Hastie disse a seus estudantes que, se estes desejavam conhecer o seu real significado, deveriam ir a Ramakṛiṣhṇa, de Dakshineswar. Isto instigou alguns de seus estudantes, incluindo Narendranath a visitar Ramakṛiṣhṇa.

 

Seu encontro com Ramakṛiṣhṇa em 1881 mostrou-se um momento decisivo em sua vida. Sobre este dia, Narendranath relatou: “Ele, [Ramakṛiṣhṇa], parecia um homem comum, sem nada de extraordinário. Ele usava a mais simples linguagem e pensei: “Pode este homem ser um grande professor? Eu me movi em sua direção e perguntei-lhe a questão que estivera fazendo a outros por toda a minha vida: ‘Você acredita em Deus, senhor?’ ‘Sim, ele respondeu.’ ‘Pode provar isto, senhor?’ ‘Sim.’ ‘Como?’ ‘Porque eu O vejo assim como vejo você, só que muito mais intensamente’. ‘Isto me impressionou na hora’. Eu comecei a ir àquele homem, dia após dia, e, de fato, vi que religião poderia ser dada. Um toque, um olhar, pode mudar toda uma vida”. Mesmo que Narendra não tenha aceito Ramakṛiṣhṇa como seu guru inicialmente e tenha se colocado contra suas ideias, ele foi atraído por sua personalidade e o visitava frequentemente. Inicialmente olhava para os seus êxtases e visões como “mera imaginação“, como “mera alucinação”. Como membro do Brahmo Samaj, ele se revoltava contra a adoração de ídolos e o politeísmo, e a adoração de Ramakṛiṣhṇa a Kali. Ele, inclusive, rejeitava a ideia de identidade com o absoluto do Advaita Vedānta, tratando-a como blasfêmia e loucura, fazendo, muitas vezes, graça com o conceito. Embora de início Narendra não podia aceitar Ramakṛiṣhṇa e suas visões, ele não podia negá-las também. Sempre fora da natureza de Narendra testar algo duramente antes que pudesse aceitá-lo. Ele testou Ramakṛiṣhṇa, que nunca pediu a Narendra para abandonar sua racionalidade, e encarou todos os argumentos e testes de Narendra com paciência – “Tente ver a verdade de todos os ângulos” era sua resposta. Ao longo dos 5 anos de treinamento junto a Ramakṛiṣhṇa, Narendra foi se transformando em um homem maduro, pronto a renunciar a tudo pela realização divina. No decorrer do tempo, Narendra aceitou Ramakṛiṣhṇa como seu Guru, e quando isto se deu, sua aceitação foi de todo coração e com completa entrega como discípulo. Influenciado por sua educação inglesa, antes não conseguia aceitar que um homem pudesse ser de fato um Guru, mas sim um professor de assuntos espirituais. Em 1885 Ramakṛiṣhṇa sofreu de um câncer na garganta e mudou-se para Calcutá. Vivekānanda e seus irmãos discípulos cuidaram de Ramakṛiṣhṇa nos dias finais. A educação espiritual, sob tutela de Ramakṛiṣhṇa, portanto, continuou lá. Nos últimos dias de Ramakṛiṣhṇa, Vivekānanda e alguns outros discípulos receberam a roupa ocre, característica dos monges Hindus. Vivekānanda aprendeu que servir ao homem é a forma mais efetiva de servir a Deus. Relata-se que quando Vivekānanda duvidou do fato de Ramakṛiṣhṇa ser um avatāra, este teria lhe dito: “Aquele que foi Rama, Aquele que foi Kṛiṣhṇa, Ele mesmo agora é Ramakṛiṣhṇa neste corpo”. Nos seus últimos dias Ramakṛiṣhṇa pediu a Vivekānanda que tomasse conta dos outros discípulos monásticos. A estes, por sua vez, pediu que tomassem Vivekānanda como seu líder. A condição de Ramakṛiṣhṇa piorou gradualmente e ele deixou o corpo no começo da manhã de 16 de Agosto de 1886, entrando em Mahasamadhi.

 

Depois da partida de seu mestre, os discípulos monásticos liderados por Vivekānanda se organizaram em uma casa em Baranagar, perto do rio Ganges, com ajuda financeira dos discípulos chefes de família. Isto acabou se tornando o primeiro monastério dos discípulos que constituíram a Ordem Ramakṛiṣhṇa. A casa, que estava em más condições, foi escolhida devido ao baixo aluguel e proximidade com o local onde Ramakṛiṣhṇa foi cremado. Narendra e os outros membros da Ordem frequentemente passavam seu tempo em meditação, discussões sobre diferentes filosofias e ensinamentos dos professores espirituais, incluindo Ramakṛiṣhṇa, Ādi Śhaṅkara, Ramanuja, e Jesus Cristo. No início de 1887, Narendra e oito outros discípulos tomaram votos monásticos formais. Narendra tomou o nome de Svāmῑ Vivekānanda. 

 

Em 1888, Vivekānanda deixou o monastério como um Parivrājaka – a vida religiosa de um monge errante Hindú. Suas únicas posses eram um kamandalu (pote de água), um bastão e seus dois livros favoritos – Bhagavad Gῑtā e A Imitação de Cristo. Viajou por toda a Índia por 5 anos, visitando importantes centros de aprendizado, familiarizando-se com diversas tradições religiosas e diferentes modos de vida. Ele desenvolveu uma compaixão pelo sofrimento e pobreza das massas e tomou a firme determinação de elevar a nação. Vivendo sobretudo com esmolas, viajou a maior parte a pé e com bilhetes de trem comprados por seus admiradores, conhecidos ao longo das viagens.

 

A sua jornada para EUA levou ele para China, Canadá, chegando a Chicago em julho de 1893. Para seu desapontamento ele aprendeu que ninguém sem credenciais de uma organização de renome poderia ser aceito como um delegado. Mantendo contato com John Henry Wright da Universidade Harvard, este percebeu sua sabedoria e o convidou a falar em Harvard e conseguiu credencia-lo no Parlamento das Religiões, o qual, ele pensou que poderia dar uma introdução à nação.”

 

O Parlamento das Religiões teve sua abertura no dia 11 de Setembro de 1893. Neste dia Vivekānanda fez a sua primeira e curta fala. Ele representou a Índia e o Hinduísmo. Apesar de inicialmente nervoso, ele se curvou a Sarasvatῑ, a deusa da Sabedoria, e começou sua fala com “Irmãs e irmãos da América”! Com estas palavras ele foi ovacionado de pé por uma plateia de sete mil pessoas, por dois minutos. Quando o silêncio foi restaurado ele iniciou o seu discurso. Ele falou diversas outras vezes no Parlamento em tópicos relacionados ao Hinduísmo e ao Budismo. O parlamento teve seu fim em 27 de setembro de 1893. Todos os seus discursos no Parlamento tinham um tema em comum – a universalidade – e enfatizavam a tolerância religiosa.

 

No dia 1 de maio de 1897, em Calcutá, Vivekānanda fundou a “Ordem Ramakṛiṣhṇa” – o órgão para propagar religião – e a Missão Ramakṛiṣhṇa, o órgão para o serviço social. Este foi o começo de um organizado movimento social e religioso, que tem contribuído, sobretudo na Índia, para ajudar as massas por meio de educação, cultura, trabalhos médicos e assistenciais. Os ideais da Missão Ramakṛiṣhṇa são baseados em Karma Yoga. Três monastérios foram fundados por ele, um em Belur, próximo a Calcutá, que se tornou a sede da Ordem e Missão Ramakṛiṣhṇa. Outro em Mayavati, nos Himalayas, próximo a Almora, conhecido como Advaita Aśhrāma e o terceiro foi estabelecido em Madras.

 

Ensinamentos e Filosofia

Svāmῑ Vivekānanda acreditava que a essência do Hinduísmo seria melhor expressa na filosofia do Vedānta, baseada na interpretação de Śhaṅkara. Ele resumiu os ensinamentos de Vedānta da seguinte maneira: 1. Toda alma é potencialmente divina; 2. A meta é manifestar esta Divindade interior por meio do controle da natureza, externa e interna; 3. Faça isso tanto por meio do trabalho, quanto adoração, controle psíquico, ou filosofia – por um, ou mais, ou por todos estes meios – e seja livre; 4. Isto é a totalidade da religião; doutrinas, dogmas, rituais, livros, templos, formas, não são se não detalhes secundários; 5. Enquanto um único cachorro em meu país está sem comida, toda a minha religião é alimentá-lo e servi-lo, qualquer coisa excluindo isso é irreligioso; 6. Levante, desperte e não pare até atingir a meta; 7. Educação é a manifestação da perfeição já existente no homem; e, 8. Servir ao homem é servir a Deus.

 

Para Vivekānanda, um importante ensinamento que Ramakṛiṣhṇa havia lhe dado é “Jῑva [indivíduo] é Śhiva [a divindade]”. Este se tornou seu Mantra, e ele cunhou o conceito de daridra nārāyaṇa seva – o serviço a Deus é prestado por meio dos seres humanos necessitados. “Se verdadeiramente existe a unidade de Brahman subjacente a todos os fenômenos, então, com que base nós nos consideramos como melhores ou piores, ou mesmo como em melhor situação do que outros?” Esta foi a questão que ele propôs a si mesmo. Por fim concluiu que estas distinções se tornam nulas dentro da luz da unidade que o devoto experimenta em Mokṣha, a libertação. O que surge, então, é a compaixão para com aqueles “indivíduos” que permanecem inconscientes desta unidade e uma determinação de ajudá-los.

 

Svāmῑ Vivekānanda pertencia ao ramo do Vedānta que sustentava que ninguém pode ser verdadeiramente livre até que todos nós sejamos. Mesmo o desejo de salvação pessoal deve ser deixado e apenas um incansável trabalho para a libertação de outros é a verdadeira marca de uma pessoa iluminada. Vivekānanda alertou seus seguidores para que tivessem uma vida santa, inegoísta e para que tivessem śhraddha (fé). Ele encorajou a prática do Brahmachārya (celibato, no sentido de vigilância sobre si mesmo). Ele atribuía sua força física e mental, e sua eloquência à prática do Brahmachārya. Vivekānanda não defendia a emergente área da parapsicologia e astrologia  dizendo que, pelo contrário, esta forma de curiosidade não ajuda no progresso espiritual, mas, na verdade esconde isto.

 

Influência

Diversos líderes da Índia do século XX e filósofos reconheceram a influência de Vivekānanda. O primeiro governador geral da Índia independente, Chakravarti Rajagopalachari, certa vez observou que “ Vivekānanda salvou o Hinduísmo, salvou a Índia”.  De acordo com o grande líder revolucionário, Subhas Chandra Bose, Vivekānanda “ é o autor da nova Índia” e, para Gandhi, a influência de Vivekānanda tornou seu “ amor por este país mil vezes maior”.

 

Vivekānanda é largamente considerado como alguém que inspirou o movimento de luta pela independência da Índia. Seus escritos inspiraram toda uma geração de pessoas que lutaram por esta libertação como o próprio Subhash Chandra Bose, Aurobindo Ghose e Bagha Jatin. Aurobindo Ghosh, que considerou Vivekānanda como seu mentor espiritual, afirmou: “ Vivekānanda foi uma alma de poder, se algum dia existiu uma. Um leão mesmo, entre os homens, mas o trabalho definitivo que ele deixou para trás é incomensurável em comparação com nossas impressões de seu poder criativo e energia. Nós percebemos sua influência ainda trabalhando de modo gigantesco, nós não sabemos bem como, nós não sabemos bem onde, em algo que ainda não está formado, algo leonino, grandioso, intuitivo, capaz de causar uma violenta elevação, que entrou na alma da Índia”.

 

O francês Romain Rolland, laureado prêmio Nobel de literatura, escreveu “suas palavras são grande música; as frases guardam o estilo de Beethoven; seus excitantes ritmos são como os coros da marcha de Händel. Eu não posso tocar estes seus dizeres, dispersos como estão nas páginas de livros, a uma distância de trinta anos, sem receber uma forte vibração por todo o meu corpo, como um choque elétrico. E que choques, que arrebatamentos devem ter sido produzidos quando, em palavras flamejantes, eles emergiram da boca de um herói”!

 

Vivekānanda inspirou Jamshedji Tata para estabelecer o Indian Institute of Science (Instituto Indiano de Ciência), uma das instituições mais finas da Índia. No exterior, ele teve algumas interações com Max Müller. O cientista Nikola Tesla foi uma daquelas pessoas influenciadas pelos ensinamentos da filosofia Védica de Svāmῑ Vivekānanda.

 

Acima de tudo, Svāmῑ Vivekānanda ajudou a restaurar um senso de orgulho entre os Hindus, apresentando o milenar conhecimento da Índia, em sua forma mais pura para uma plateia ocidental, livre da propaganda espalhada pelos administradores coloniais britânicos, segundo a qual o Hinduísmo seria uma fé misógina, idólatra e opressora de castas. De fato, sua vinda ao ocidente iria assentar o caminho para os subsequentes professores de religião da Índia para que deixassem suas próprias marcas no mundo, assim como introduzir solenemente a entrada de Hindus com suas tradições religiosas no mundo ocidental.

 

As ideias do Svāmῑ tiveram grande influência na juventude indiana. Em muitos institutos, estudantes se uniram formando organizações que objetivavam promover discussões de ideias espirituais e a prática de tão altos princípios. Muitas destas organizações adotaram seu nome. Adicionalmente, as ideias de Svāmῑ Vivekānanda e seus ensinamentos fluíram em direção ao globo, sendo praticadas em instituições por todo o mundo.

 

Mahatma Gandhi disse, “ Os escritos de Svāmῑ Vivekānanda não precisam ser introduzidos por ninguém. Eles fazem seu próprio apelo irresistível”. Gandhi disse que toda a sua vida foi um esforço para trazer para a ação as ideias de Vivekānanda. Muitos anos depois da morte de Vivekānanda, Rabindranath Tagore – poeta indiano e o primeiro fora da Europa a receber o Prêmio Nobel de Literatura – disse a Romain Rolland “ se você quer conhecer a Índia, estude Vivekānanda. Nele tudo é positivo, não há nada de negativo”.

 

Vivekānanda e Ciência

No seu livro Raja Yoga, Vivekānanda explora visões tradicionais a respeito do sobrenatural e a crença de que a prática de Raja Yoga pode conferir poderes psíquicos como ‘ler pensamento de outros’, ‘controlar todas as forças da natureza’, se tornar ‘praticamente todo conhecedor’, ‘viver sem respirar’, ‘controle do corpo de outros’ e levitação. Ele também explica conceitos tradicionais do oriente, como kuṇḍalinῑ e centros de energia espiritual (chakras). No entanto, Vivekānanda toma um ponto de vista cético e, no mesmo livro aponta: “Não é bom sinal, uma mente científica e imparcial jogar fora qualquer coisa sem uma própria investigação. Cientistas superficiais, inaptos a explicar vários fenômenos mentais extraordinários, lutam por ignorar a sua própria existência”. Ele, mais adiante na introdução do livro, diz que aquele que assim intenta, deveria tomar as práticas e verificar estas coisas por si mesmo, e que não deveria haver crença cega. “O pouco que eu sei, vou dizer a vocês. Até onde a minha razão chega eu vou fazê-lo, mas para aquilo que eu não conheço, eu vou simplesmente lhes dizer o que os livros dizem. É errado acreditar cegamente. Você deve exercitar sua própria razão e julgamento; você deve praticar e ver se estas coisas acontecem ou não, da mesma forma que você pegaria qualquer outra ciência, exatamente do mesmo modo você deve pegar esta ciência para estudar”. Vivekānanda (1985) rejeitou a teoria do éter antes de Einstein (1905), defendendo que esta não era capaz de explicar o espaço. Em uma de suas falas no Parlemento Mundial das Religiões, Vivekānanda (1893) também aludiu à etapa final da física: “Ciência não é nada a não ser a descoberta da unidade. Tão logo quanto a ciência chegue a perfeita unidade, esta irá interromper com progressos futuros, porque chegará ao seu objetivo. Assim, a química não poderá progredir mais quando descobrir um elemento a partir do qual todos os outros poderão ser feitos. A física parará quando se tornar apta a preencher seus serviços em descobrir uma energia da qual as outras não são senão manifestações (…). Toda a ciência esta compelida a chegar a esta conclusão a longo prazo. Manifestação, e não criação, é a palavra da ciência hoje, e o Hindu fica feliz porque o que ele tem apreciado em seu âmago por eras está caminhando para ser ensinado em uma linguagem mais convincente, e com a luz adicional das últimas conclusões da ciência”.

 

Trabalhos

Vivekānanda deixou um corpo de trabalhos filosóficos (que estão copilados nas suas obras completas, sem edição em língua portuguesa). Seus livros sobre os quatro Yogas – Raja Yoga, Karma Yoga, Bhakti Yoga e Jñāna Yoga, copilados a partir de palestras dadas ao redor do mundo, são bastante influentes e vistos como textos fundamentais a qualquer um interessado na prática do Yoga. Suas cartas são de grande valor literário e espiritual. Ele foi também considerado um ótimo cantor e poeta. Pouco antes de morrer, em 4 de julho de 1902, ele compôs muitas canções, incluindo a sua favorita, “Kali, the Mother”. Ele usava seu senso de humor para dar seus ensinamentos e era também um excelente cozinheiro. Em português há algumas obras publicadas com ensinamentos e ou a vida do Svāmi. Entres estas, “O que é Religião”, “Vivekananda, o professor Mundial”, “Karma Yoga”, “Bhakti Yoga” e “Raja Yoga”.

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Âncora 7

AUROBINDO (1872 – 1950)

 

Por 78 anos, Aurobindo Akroyd Ghosh ou Ghose dedicou e trabalhou por uma sociedade mais justa, igualitária e livre. Nasceu na cidade de Calcutá, na Índia, em 15 de agosto de 1872. Morreu em 5 de dezembro de 1950, em Pondicherry.

 

Porém, aos 5 anos, foi junto com seus dois irmãos para a Inglaterra, onde estudaram e aprenderam a falar muitas línguas e Aurobindo mostrou toda a sua afinidade com a literatura.

 

Aos 20 anos, retornou a Índia com a vontade de descobrir a “sabedoria e verdade do Oriente”. Essa busca ditou toda a sua história política e espiritual.

 

Apesar de tudo, Aurobindo é conhecido como um dos principais guias espirituais do planeta e possui até uma povoação em sua homenagem, chamada de Auroville (“A cidade do amanhecer”), localizada próxima à Pondicherry, local onde o filósofo ficou isolado na busca do aperfeiçoamento e aprofundamento do Yoga.

 

Em 1892, quando voltou da Inglaterra, Aurobindo começou uma luta contra o domínio britânico no país. Em 1906 foi escolhido para comandar o Partido Nacionalista, defendendo o direito de liberdade e independência da Índia do poderio inglês. Ele se juntou ao Movimento de independência da Índia dos domínios britânicos, e, durante algum tempo foi um dos seus líderes mais influentes. Em momento posterior, tornou-se um reformador espiritual, apresentando suas visões sobre o progresso humano e a evolução espiritual.

 

Durante o serviço civil indiano, Aurobindo estudou no King's College, em Cambridge, Inglaterra. Depois de voltar para a Índia, ele assumiu várias funções civis sob o marajá do estado principesco de Baroda e se envolveu cada vez mais na política nacionalista e no movimento revolucionário nascente em Bengala. Ele foi preso após defender e pleitear essas reivindicações abertamente em 1908, bem como após ocorrer vários atentados a bomba ligados à sua organização, mas em um julgamento altamente público em que enfrentou acusações de traição, Aurobindo só pode ser condenado e preso por escrever artigos contra o domínio britânico na Índia. Ele foi libertado por não haver nenhuma prova de seus crimes após o assassinato de uma testemunha de acusação durante o julgamento. Durante sua permanência na prisão (1 ano), o jovem revolucionário passou por experiências místicas e espirituais, o que determinou seu trabalho no futuro e o levou a se mudar para Pondicherry, deixando a política para se dedicar ao trabalho espiritual.

O uso do Yoga na prisão não foi uma descoberta para Aurobindo. Tendo em vista os desacordos e os bastidores conturbados que a vida política lhe proporcionava, o pensador praticava meditação a fim de relaxar o corpo e prepará-lo para mais embates.

 

Entretanto, na cadeia ele conseguiu intensificar ainda mais essa técnica e ao ser liberto, em 1909, seguiu para Pondicherry, na ânsia de um isolamento do mundo e buscando devotar-se totalmente à missão espiritual, abandonando os conflitos políticos.

 

A partir de então, Aurobindo Akroyd Ghosh passa a ser conhecido, somente, por Śhrῑ Aurobindo. Isso porque, “Śhrῑ” apesar de não possuir significado, é utilizado como uma espécie de título, uma indicação de reverência para as pessoas ou entidades.

Durante sua estada em Pondicherry, Śhrῑ Aurobindo desenvolveu um método de prática espiritual chamado Integral Yoga. O tema central de sua visão foi a evolução da vida humana em uma vida divina. Ele acreditava em uma percepção espiritual que não apenas liberava o homem, mas transformava sua natureza, permitindo uma vida divina na Terra. Em 1926, com a ajuda de sua colaboradora espiritual, Mirra Alfassa (sendo referida como "A Mãe"), ele fundou o Ashram Śhrῑ Aurobindo.

 

Suas principais obras literárias são The Life Divine (A Vida Divina), que trata dos aspectos teóricos do Yoga Integral; Síntese do Yoga, que trata da orientação prática para o Yoga Integral; e Savitri: A Legend and a Symbol, um poema épico. Seus trabalhos também incluem filosofia, poesia, traduções e comentários sobre os VedasUpaniṣhads e a Bhagavad Gῑtā. Ele foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura em 1943 e para o Prêmio Nobel da Paz em 1950.

 

O pensamento de Śhrῑ Aurobindo

Śhrῑ Aurobindo é considerado como nacionalista, lutador pela liberdade, filósofo, escritor, poeta, yogi, e guru indiano.

 

De acordo com o próprio pensador, a meta não era “fundar uma religião ou uma escola de filosofia ou uma escola de Yoga, mas criar uma base e um caminho que irão trazer para a vida uma verdade maior além da mente, mas não inacessível à alma e à consciência humana”.

 

Sri Aurobindo postula que existem duas visões extremas da vida: a materialista e a asceta.

 

Ele compreende que os materialistas só aceitariam a existência de matéria ou força e negariam qualquer outra coisa, e em seu argumento encontrariam algo que não é cognoscível (aquilo que escaparia do pensamento e fala) como uma ilusão ou alucinação. Essa afirmação dos materialistas baseia-se na associação do real com o materialmente perceptível e torna-se fundamento para todos os argumentos. Devido à noção acima, os materialistas recusariam qualquer investigação adicional, portanto nunca tendo um entendimento satisfatório. Ele recomenda que a única maneira de reconciliar a mente materialista com a outra verdade seria atravessar as camadas da consciência interna, seja pela análise objetiva da vida e da mente quanto à matéria ou pela síntese e iluminação subjetivas, chegar a um estado da última palavra. Unidade sem negar a energia da multiplicidade expressiva do universo. Aurobindo postula que o mundo atual está em um estado de materialismo racionalista, e acha que esse movimento racionalista serviu à humanidade de um modo positivo, purificando o intelecto dos dogmas, superstições abrindo caminho para um melhor avanço da Humanidade. Śhrῑ Aurobindo acha que a raiz deste movimento científico é uma busca de conhecimento, devido a essa raiz o movimento não se deteria e seu progresso é um sinal claro de que ele levaria adiante para alcançar a outra parte do conhecimento que os vedantins tinham descoberto de uma maneira diferente.

 

Já os ascetas somente aceitariam o espírito e denominariam o restante como substância mecânica ou energia não inteligente, levando a acreditar que a realidade é uma ilusão de sentidos. Śhrῑ Aurobindo escreve que quando a mente se retrai de atividades externas e tem experiência de silêncio, surge uma poderosa experiência convincente a qual indica que apenas o eu puro ou não-ser é real, levando os ascetas a desconsiderar o mundo exterior. Ele acha isso uma revolta de espírito sobre a matéria, que foi tornada famosa pelo budismo, afirmando que é impossível encontrar uma solução no mundo que seja denominada de natureza dual, levando ao Nirvana, Brahmaloka ou Goloka. De acordo com Aurobindo, que esta abordagem está lentamente chegando ao fim e teve sua importância como parte da evolução, mas é bem diferente do que estava presente durante o período védico.

 

Śhrῑ Aurobindo acha que um compromisso entre as duas abordagens seria uma barganha e não uma verdadeira reconciliação. Para ele, ambas as cosmovisões são diferentes estados de realidade com afirmações opostas. De acordo com Śhrῑ Aurobindo, a experiência mais elevada da realidade é uma existência consciente, uma Inteligência suprema; Ele acha que uma inteligência e experiência liberadas trariam a mais alta compreensão da realidade.

 

Seguindo os princípios de Śhrῑ Aurobindo, Mira Alfassa, conhecida por “A mãe” deu continuidade aos ensinamentos do filósofo. Porém, nem ela, nem Aurobindo procuravam mais discípulos.

 

E evitavam um perfil público, dando preferência ao isolamento e o abandono do mundo de bens.

 

“Um movimento, no caso de um trabalho como o meu, significa a fundação de uma escola ou seita ou algum outro condenável “non-sense”. Significa que centenas de milhares de pessoas sem nenhum valor para o propósito se aproximariam e corromperiam o trabalho ou o reduziriam a uma pomposa farsa, da qual a Verdade que estava descendo, se retiraria para segredo e silêncio. É isso o que tem acontecido às religiões, e essa é a razão de seu fracasso”, alertou o próprio Śhrῑ Aurobindo.

Frases

  • O segredo da transformação está em movermos o centro da nossa vida para uma consciência superior.

  • Calmo, desapegado, interiormente livre, habito o Eu silencioso e permito que sua energia atue por meio de Seus instrumentos naturais.

  • Lembrem-se que vocês vivem um tempo excepcional em uma época única, e que têm essa grande felicidade, esse incalculável privilégio, de estarem presentes ao nascimento de um novo mundo.

  • Nossa vida visível e as ações desta vida não são mais que uma série de expressões significativas, mas aquilo que ela tenta expressar não está na superfície; nossa existência é algo bem maior que este ser frontal aparente que nós mesmos supomos ser e que oferecemos ao mundo em volta de nós.

  • Viva sempre como se você estivesse sob o próprio olho do Supremo e da Mãe Divina. Não faça nada, tente não pensar nem sentir nada que seja indigno da Presença Divina.

  • Não se incomodar em absoluto se os outros estiverem inflamados em disputas, mas permanecer quieto e imperturbável, e só falar o que servir como ajuda para que as coisas se acalmem novamente.

  • Se se falar mal a respeito de outras pessoas e se houver críticas maldosas, não compartilhar, porque essas coisas não ajudam de forma alguma e apenas rebaixam a consciência de seu nível mais alto.

  • Uma mente pura significa uma mente quieta e livre de pensamentos de caráter inútil ou perturbador.

  • Não permitir que o impulso de falar se afirme demasiadamente ou leve a dizer qualquer coisa sem refletir, mas falar sempre com um controle consciente e só o que for necessário e útil.

  • Mantenha-se estabelecido na luz do sol da consciência verdadeira – porque só nela há felicidade e paz. Elas não dependem de acontecimentos externos, mas só da consciência verdadeira.

  • Vida é vida – seja de um gato, ou de um cão ou de um homem. Não há diferença entre um gato e um homem. A ideia de diferença é a concepção humana para vantagem do homem.

  • Você precisa fazer crescer em si a paz que nasce da certeza da vitória.

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Âncora 8

BHAGAVAN ŚHRῙ RĀMANA MAHARṢHI (1879 — 1950)

 

Mestre de Advaita Vedānta e homem santo do sul da Índia. Considerado um dos maiores sábios de todos os tempos, tornou-se conhecido no Ocidente especialmente através do livro "A Índia Secreta", do jornalista e escritor inglês Paul Brunton, que retratou os ensinamentos de Rāmana, transmitidos, na maioria das vezes, em silêncio absoluto aos seus discípulos. Venkataraman Iyer, mais conhecido pelo nome de Bhagavan Śhrῑ Rāmana Maharṣhi, foi um contemplativo nato e um gnóstico nato, o mais extraordinário fenômeno espiritual dos muitos que a Índia eterna produziu no século XX.

 

Śhrῑ Rāmana Maharṣhi foi o grande representante da sabedoria milenar da Índia no século XX. Isso não significa que ele foi um acadêmico que sabia de cor e salteado os textos sagrados da religião, mas sim que viveu e mesmo personificou à perfeição tal sabedoria. Na verdade, ele não escreveu nenhum livro. Ensinava o jñāna – conhecimento espiritual mais puro. Ao mesmo tempo, ressaltava que as outras duas outras grandes vias espirituais, a do karma (das ações) e da bhakti (devoção) estavam contidas no jñāna.

 

Śhrῑ Rāmana Maharṣhi nasceu em 30 de dezembro de 1879, no que hoje é Tiruchuli, região do Tamil Nadu, sul da Índia. Aos 16 anos, após a morte do pai, passou por uma vívida experiência relacionada à morte e, por seu intermédio, despertou para o estado que transcende, origina, constitui e engloba os campos físico, emocional e intelectual, passando a viver permanentemente nesse estado, por alguns denominado de realização espiritual. Depois de algum tempo, abandonou sua casa e família e partiu como sadhu (peregrino ou eremita) para a cidade de Tiruvannamalai (190 km ao sul de Madras), onde passou o restante da vida na montanha de Aruṇāchala, considerada por ele como uma montanha sagrada.

 

A princípio, viveu no grande templo de Aruṇāchaleśhvara, permanecendo absorto em meditação, no saguão conhecido como o de "mil pilares", de onde teve de se mudar, em razão das pedras que lhe eram atiradas por um bando de meninos que o viam imóvel no local. Passou então a viver em um escuro vão no subsolo do templo, mas os moleques cedo o descobriram, e continuaram a atirar-lhe pedras. Teve de se mudar muitas vezes e passou a residir em vários outros santuários e locais adjacentes ao templo, como jardins, bosques e pomares. Pouco a pouco foi subindo a montanha de Aruṇāchala, onde viveu em diferentes cavernas e passou a ser conhecido como o “Maharṣhi” (grande sábio ou vidente), e "Bhagavan", o Senhor. Lenta e gradualmente, discípulos foram se reunindo à sua volta. Vinte e sete anos após a sua chegada a Tiruvannamalai, um "āśhrama" ou comunidade espiritual foi construído ao redor do túmulo de sua mãe, aos pés da Montanha Sagrada de Aruṇāchala, onde passou a residir até o fim de seus dias. Essa comunidade, chamada "Rāmanashram", tornou-se um local mundialmente conhecido, para onde se dirigiam (e ainda se dirigem, em número crescente) buscadores espirituais de diversas origens religiosas.

 

Ensinamentos

Seus ensinamentos, magistralmente simples, profundos e lúcidos, estão registrados em grande número de livros. Diversos autores escreveram sobre ele; entre outros, Arthur Osborne, em "Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento", Mouni Sadhu em "Dias de Grande Paz", Carl Jung, a pedido de Heinrich Zimmer, Somerset Maugham, em "O Fio da Navalha", William Stoddart, em "O Hinduísmo" (S. Paulo, Ibrasa, 2004), Mateus Soares de Azevedo em "O Livro dos Mestres" (S. Paulo, Ibrasa, 2016, pp. 97-103), David Godman, Sadhu Om, H.l Poonja, Maha Kṛiṣhṇa Svāmῑ. Em 25 de dezembro de 2007, quando da comemoração do seu nascimento (data móvel, dependente da posição das estrelas), uma nova biografia em língua inglesa, com 4.135 páginas distribuídas em oito volumes, contendo 400 fotografias, foi lançada.

 

Sua presença, que irradiava uma grande paz, tornando fácil e natural a convivência na comunidade, inclusive com os animais selvagens que habitavam a montanha, atraiu milhares de pessoas a Aruṇāchala. A essência dos seus ensinamentos é o "Vichāra"(autoinvestigação), ou investigação direta, interior, por meio dos questionamentos: "Quem sou eu?" e "De onde surge o pensamento 'eu'?", para a descoberta da "Verdade, Paz ou Bem-Aventurança, a nossa real natureza". "Descoberta" no sentido literal de "retirar o que cobre", os conceitos. Em vários momentos, Rāmana nos alerta que não se trata de mero questionamento verbal, mecânico, mas de trazer sempre ao foco da atenção, por meio desse questionamento, a sensação do "eu sou", que é a única coisa real, visto que todas as outras coisas mudam e passam, são transitórias, enquanto essa consciência do eu permanece. Tal questionamento faz com que a atenção se volte para o estado natural que ultrapassa o conhecimento, levando à percepção da inevitável limitação de todos os conceitos, o que faz com que, gradualmente, definhem e percam sua tirania sobre a mente, deixando de se sobrepor "àquilo que verdadeiramente é".

 

Para o ocidente, tal sobreposição é o verdadeiro conhecimento ["episteme", epi (sobre) + histanai (por, colocar): sobrepor]. Para o Vedānta, tanto a opinião quanto a "episteme" impedem o descobrimento "daquilo que é". A alegoria da caverna, baseada no estudo hindu da "māya" (literalmente "medir", "avaliar"), se refere a essa limitação: a ideia é diferente daquilo que verdadeiramente "é". É preciso ultrapassar a limitação dos conceitos, das ideias, das imagens, das representações. Sair da prisão da ignorância, representada pela caverna, para o espaço infinito da bem-aventurança. A própria alegoria não é bem compreendida no suposto "mundo ocidental". Tomar o resultado da avaliação como verdade é tomar as sombras pela coisa em si, e, por conseguinte, viver na ilusão. A ignorância basilar é a que existe com relação ao "eu". Julgo conhecer-me por meio de uma representação. Desconhecendo quem é o conhecedor, busco conhecer o universo, os seres vivos, os objetos. Deles também construo representações. A representação que construo a respeito de mim mesmo, que é sempre incompleta, e com a qual me identifico, busca, em vão, completar-se por meio de conhecimentos, sensações, posses, prestígio. Nessa busca, ela tem continuidade, com a inseparável sensação de incompletude e, portanto, de sofrimento.

 

Quem sou eu? Uma vez que a representação que crio a respeito de mim mesmo não sou eu - quem sou eu? Quem está fazendo essa pergunta? A resposta não pode ser mental, intelectual, pois constituir-se-ia em uma outra representação. Para o Vedānta, pois, sem a negação da óbvia necessidade, em seu campo próprio, do conhecimento relativo, o verdadeiro conhecimento implica a não interferência dos conceitos, das teorias, seja a respeito do mundo e das coisas, seja a respeito de si mesmo, do estado que ultrapassa o pensamento. Havendo um grande descontentamento em relação a tudo o que é incompleto, havendo a necessidade e a urgência da descoberta, o próprio exame e compreensão de todo o quadro, a investigação sobre o "eu" e a origem do "eu", levam à não-interferência dos conceitos – porque se compreende sua limitação, o que provoca o seu definhar – e à quietude mental. A própria investigação sobre o 'eu' e sua origem, ao final, mergulham na quietude. "Aquieta-te e sabe que Eu Sou Deus". "Eu Sou esse Eu Sou". Nesse estado de silêncio vivo, desperto, o conhecedor, o conhecimento e o objeto do conhecimento, qualquer que seja ele, são um só. Só há separação no mundo das representações, das construções mentais, no mundo "daquilo que não é". Nesse sentido, conhecer a verdade acerca de si mesmo é conhecer a verdade acerca de todos os seres e de todas as coisas. Conhecer a verdade acerca de si mesmo é ser essa verdade, já que não somos dois, um para conhecer o outro. Cada um é a própria Verdade absoluta; ou Deus, para usar uma outra palavra.

 

A expressão "autorrealização", nos diz Rāmana Maharṣhi, é apenas um eufemismo para "remoção da ignorância". Nada há para ser adquirido; há, apenas, ignorância a ser removida. Somos a própria vida, o Ser Infinito, a fonte de todas as coisas.

 

Afirma-se que, no momento em que Śhrῑ Rāmana Maharṣhi faleceu, em 14 de abril de 1950, um magnífico astro, majestosa e lentamente, cruzou os céus da Índia, sendo visto em grande parte do país por inúmeras pessoas, que espontaneamente compreenderam o evento que ele anunciava.

 

Frases

  • A consciência brilha como existência. A existência é verdadeiramente Consciência. A consciência é o verdadeiro EU.

  • O que está destinado a não acontecer, não vai acontecer, por mais que você tente. O que está destinado a acontecer, irá acontecer, faça o que você fizer para evitar. Então, a melhor opção é permanecer em silêncio.

  • Conhecer a Verdade do próprio Ser como sendo a única Realidade, fundir-se e tornar-se Um com essa mesma Realidade, é a única verdadeira Realização.

  • A mente nada mais é do que o pensamento "eu" (ego). Os pensamentos surgem por causa do pensador (o sujeito). O pensador é o ego, que, se investigado, automaticamente desaparecerá.

  • Sem Consciência, o tempo e o espaço não existem; eles aparecem na Consciência, mas não têm realidade própria.

  • Somente a Consciência Absoluta é a nossa Natureza Real.

  • A Graça está dentro de você. A Graça é você mesmo. A Graça não é algo a ser adquirido a partir dos outros. Se é algo externo, é inútil. Tudo aquilo que é necessário saber é que a sua existência está em você. Você nunca está fora da sua operação.

  • A mente não pode buscar a própria mente. Você ignora aquilo que é Real e agarra-se àquilo que é irreal, então, tente descobrir aquilo que você é. Você acha que é a mente, e, portanto, pergunta como ela deve ser controlada? Se a mente existe, ela pode ser controlada, mas ela não existe (não é uma entidade, é somente um conjunto de pensamentos). Entenda esta verdade pela autoinvestigação.

  • O eterno não nasce nem morre. Nós confundimos a aparência com a Realidade. A aparência transporta o seu próprio final em si mesma. O que é que lhe aparecerá, de novo? Se você não puder encontrar nada de novo, entregue-se sem reservas ao Substrato de todas as aparências. Então, a Realidade será aquilo que permanecer.

  • A Realidade é simplesmente a perda do ego. Destrua o ego buscando a sua verdadeira identidade. Como o ego não tem existência (sendo apenas mais um pensamento), ele desaparecerá automaticamente (quando você está quieto) e a Realidade (Consciência) brilhará por si mesma, e em toda a sua glória. Este é o método direto. Todos os outros métodos retêm o ego. Nesses caminhos, surgem tantas dúvidas, e a questão eterna continua por ser resolvida. Mas neste método a questão última é a única a ser resolvida, e ela é levantada desde o início.

  • Nem mesmo nenhuma prática espiritual (Sādhana) é necessária para esta busca.

  • Seu dever é ser, e não ser isto ou aquilo.

  • A causa da sua miséria não está na sua vida, a causa da sua miséria está dentro de você como o ego (as falsas percepções de pessoalidade e de divisão). Você impõe limitações a si mesmo e depois trava uma luta vã para transcendê-las.

  • Que felicidade você pode obter de algo exterior a você mesmo? E, quando você pensa que a consegue, quanto tempo essa felicidade momentânea vai realmente durar?

  • Não é uma questão de tornar-se, mas de Ser.

  • Descubra quem está sujeito ao livre arbítrio ou à predestinação, e permaneça nesse estado. Então, ambos serão transcendidos. Esse é o único propósito em discutir-se essas questões. Para quem essas questões se apresentam? Descubra isso e fique em paz.

  • A sua Verdadeira Natureza é a do Espírito Infinito. O sentimento de limitação é o trabalho da mente. Quando a mente incessantemente investiga a sua própria natureza, fica claro que não existe tal coisa como a mente. Este é o caminho direto para todos.

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Âncora 9

PARAMAHANSA YOGĀNANDA (1893 – 1952)

 

 

 

 

 

 

 

 

Conforme contado por seu irmão, Sānanda Lal Ghosh, Paramahansa Yogānanda nasceu com o nome Mukunda Lal Ghosh no dia 5 de Janeiro de 1893, na cidade de Gorakhpur, na Índia, numa devota e abastada família Bengali. Desde os primeiros anos, sua consciência e experiências espirituais já eram reconhecidas por todos ao seu redor como muito além das comuns.

 

A morte da mãe, a quem amava intensamente, foi comunicada a ele por uma aparição mística, e intensificou sua busca pessoal por Deus. Ansiando encontrar um mestre iluminado para guiá-lo em sua busca espiritual, durante a juventude Yogānanda procurou a presença de muitos sábios e santos da Índia, que sempre lhe diziam para aguardar o momento certo, quando seu guru, apontado por Deus, surgiria.

 

Em 1910, com a idade de 17 anos, finalmente sua busca pelo mestre cessou diante do encontro com Svāmῑ Śhrῑ Yukteśhvar. Segundo suas próprias narrativas, foi no eremitério de Śhrῑ Yukteśhvar que passou a melhor parte dos 10 anos seguintes, recebendo disciplina rígida, porém amorosa, enquanto adquiria sobejas experiências da realidade do espírito.

 

Após formar-se na Universidade de Calcutá em 1915, ele fez os votos formais e entrou na ordem monástica dos Svāmῑs, ocasião em que recebeu o nome Yogānanda (uma junção dos termos yoga, "união", e ānanda, "bem-aventurança", significando, portanto, "bem-aventurança através da união divina").

 

Várias ocorrências invulgares desde o nascimento de Yogānanda, já anunciavam que, a ele, era destinada uma missão mundial. Yogānanda começou a missão de sua vida com a fundação, em 1917, de uma escola da "Arte do Viver" (Yogoda Satsanga Brahmācharya Vidyālaya, em Ranchi) para meninos, na qual os modernos métodos educacionais eram combinados com treinamento em ioga e nos ideais espirituais, além de manter um serviço médico ao ar livre de ajuda medicinal e cirúrgica para atendimento a pobres de todas as regiões. Em uma visita à escola em 1925, Mahātma Gandhi escreveu, no livro destinado aos visitantes: "Essa instituição deixou uma profunda impressão em minha mente".

 

Em 1920, foi convidado para participar como representante da Índia em um Congresso de líderes religiosos que aconteceu em Boston. Inseguro porque não falava bem o inglês, Yogānanda perguntou a seu mestre, Śhrῑ Yukteśhvar, se deveria ir, no qual esse respondeu: “Todas as portas estão abertas para você. É agora ou nunca!

 

Chegando à América, seu discurso com o tema "A Ciência da Religião", foi recebido com tanto entusiasmo que ele foi convidado a dar uma série de outras palestras em diversas cidades americanas. Ainda em 1920, Yogānanda fundou sua organização, que chamou de Self-Realization Fellowship (Associação da Autorrealização), destinada a representá-lo e a disseminar seus ensinamentos e a filosofia do yoga para o mundo. Pelos próximos anos, Yogānanda viajou extensivamente e fez inúmeras palestras para auditórios superlotados.

 

Em 1923, três anos depois de chegar aos Estados Unidos, Paramahansa Yogānanda publicou um livro chamado “Praecepta”, sobre o sistema psicofísico denominado Yogoda que ele descobriu e passou a ensinar aos seus discípulos, tanto nos Estados Unidos como na Índia. Ele afirmava que eram essas as técnicas mais elevadas de concentração para se alcançar a perfeição física pelo poder da vontade. Ao regressar de sua viagem à India, Paramahansa Yogānanda solidificou os alicerces para seu trabalho humanitário e espiritual na Self-Realization Fellowship, e concluiu uma abrangente série de Lições para serem estudadas em casa, com a técnica de Kriyā Yoga. Retirou-se gradualmente das atividades públicas para escrever os livros que iriam preservar seus ensinamentos para as gerações futuras. Em 1946, lançou sua “Autobiografia de um Iogue” com expressivo sucesso.

 

Em diversas ocasiões pouco antes da sua morte, Yogānanda deu uma série de indicações de que havia chegado a hora de deixar o mundo, mas nenhum deles compreendeu na época. Em 7 de março de 1952, esse dia chegou. Yogānanda participou de um jantar homenageando a visita do embaixador indiano nos Estados Unidos. Duzentos e quarenta convidados estavam presentes, incluindo-se 35 estudantes da SRF, vindos de Los Angeles e cidades vizinhas. Após a conclusão do banquete, Yogānanda falou a respeito da Self-Realization Fellowship e sua influência sobre a paz e a boa vontade entre as nações, sobre as contribuições da Índia e da América para a solidariedade mundial e o progresso humano, expressando sua esperança de um "Mundo Unido", "um lar espiritual de Deus". Concluiu seu discurso com a estrofe final de seu poema "Minha Índia": “Onde o Ganges, os bosques, as grutas do Himālaya e os homens sonham com Deus; Eu sou abençoado, meu corpo tocou este solo”. Após recitar essa frase, caiu morto ao chão com um sorriso no rosto.

 

Ensinamentos e Kriya Yoga

Yogānanda ensinou a unidade das religiões e a reverência por todos os seres elevados que estiveram na Terra para resgatar a essência da divindade no homem. Ele declarava a necessidade da experiência direta da verdade em oposição à fé cega. Em ressonância ao tradicional ensinamento hindu, argumentava que todo o universo é um filme cósmico de Deus, e que os indivíduos são meros atores do drama divino, a desempenhar papéis que mudam através das reencarnações. Que o profundo sofrimento da humanidade está enraizado na identificação estreita com a representação dos papéis, e o sofrimento cessa pela identificação com o diretor do filme, ou Deus.

Para isso, promoveu o ensino da meditação em Kriyā Yoga, como um meio para auxiliar as pessoas a alcançar esse entendimento, que ele definiu como autorrealização.

 

Frases

  • A verdadeira base da religião não é a fé, mas a experiência intuitiva. A intuição é a força da alma no conhecimento de Deus. Para conhecer profundamente a religião, é necessário conhecer Deus.

  • O mistério da vida e da morte, cuja solução é o único objetivo da passagem do homem pela Terra, está intimamente entrelaçado com a respiração. Um ser humano identifica-se falsamente com sua forma física porque as correntes vitais da alma são transportadas pela respiração para o interior da carne, com tamanha intensidade, que o homem toma o efeito pela causa, e supõe, idolatradamente, que o corpo tem vida própria.

  • Para despertar a memória de sua própria divindade, o homem comum de nada mais precisa que a técnica de Kriya Yoga, a observância diária dos preceitos morais e a aptidão de clamar sinceramente o anseio por conhecer a Deus. Usando a chave de Kriya, as pessoas que não podem crer na divindade de homem algum, contemplarão, por fim, a plena divindade de si mesmas.

  • Deus é Amor; logo, Seu plano para a criação só pode ter raiz no amor. Não oferece este simples pensamento mais consolo ao coração humano que todos os raciocínios dos eruditos? Todo santo que penetrou no âmago da Realidade deu testemunho de que existe um planejamento divino do universo, pleno de beleza e de alegria.

  • Você é uma centelha da Chama Eterna. Você pode ocultar a centelha, mas jamais poderá destruí-la.

  • Não leve as experiências da vida tão a sério. Não deixe principalmente que elas o magoem, pois na realidade, nada mais são do que experiências de sonho. Se as circunstâncias forem ruins e você precisar suportá-las, não faça delas uma parte de você mesmo. Desempenhe o seu papel no palco da vida, mas nunca esqueça de que se trata apenas de um papel. O que você perder no mundo não será uma perda para sua alma. Confie em Deus e destrua o medo, que paralisa todos os esforços para ser bem-sucedido e atrai exatamente aquilo que você receia.

  • A melhor coisa que você pode fazer para cultivar a verdadeira sabedoria 
    é praticar a consciência de que o mundo é um sonho.

  • O Homem não é importante pelo seu Ego ou pela sua personalidade. O Homem é importante porque, como alma, ele é parte de Deus.

  • Se você desistiu de ter a esperança de ser feliz um dia, alegre-se. Jamais perca a esperança. Sua alma, reflexo do Espírito eternamente cheio de alegria, é, em essência, a própria felicidade.

  • A caridade escraviza as pessoas. Compartir a sabedoria, capacitando-as a ajudar a si mesmas, é superior.

  • O pai educa o filho pela razão e força, a mãe pelo sentimento e ternura. Às vezes convém a austeridade, outras o amor. Ambos são necessários para o equilíbrio.

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Âncora 10

JIDDU KṚIṢHṆAMURTI (1895 — 1986)

 

Foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, política ou social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento; bem como da prática correta da meditação ao homem liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

Jiddu Krishnamurti veio de uma família telugú de linha Brahmânica. Nasceu em 12 de maio de 1895 em Madanapalle, um pequeno povoado situado a 250 quilómetros ao norte de Madrasta. Como oitavo filho, seu nome foi dado segundo a tradição ortodoxa hindu, em homenagem a Shri Krishna que havia sido também um oitavo filho.

 

Seu pai, Jiddu Narianiah, graduado na Universidade de Madrasta e empregado do departamento de receita inglês, alcançou a posição de coletor de renda e magistrado do distrito. Seus pais, estritamente vegetarianos, eram primos de segundo grau. Tiveram onze filhos dos quais somente seis sobreviveram à infância.

 

Com seus três irmãos, os que sobreviveram de um total de dez, acompanhou seu pai Jiddu Narianiah a Adyar em 23 de janeiro de 1909, pois este conquistara um emprego de secretário-assistente da Sociedade Teosófica, entidade que estuda todas as religiões. Reza a tradição brâmane, a qual a família era vinculada, que o oitavo filho toma no batismo o nome Krishna, em homenagem ao deus Sri Krishna, de quem a mãe, Sanjeevamma, era devota; foi o que aconteceu com Krishnamurti, a quem foi dado o nome de Krishna, juntamente com o nome de família, Jiddu.

 

Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi 'descoberto' por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o 'Instrutor do Mundo', acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro.

 

Krishnamurti assim foi sendo preparado pela ST; algo, porém, iniciou sua separação de seus tutores: a morte de seu irmão Nitya em 13 de novembro de 1925, que lhe trouxe uma experiência que culminou em uma profunda compreensão. Krishnamurti em breve viria a emergir como um instrutor espiritual, e dito Mestre extraordinário e inteiramente descomprometido. As suas palestras e escritos não se ligam a nenhuma religião específica, nem pertencem ao Oriente ou ao Ocidente, mas sim ao mundo na sua globalidade: "Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo (…) Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação. (…)"

 

Durante o resto da existência, foi rejeitando insistentemente o estatuto de guia espiritual que alguns tentaram lhe atribuir. Continuou a atrair grandes audiências por todo o mundo, mas recusando qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre como se fosse de pessoa a pessoa. O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só pode acontecer através da transformação da consciência individual.

 

A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um aprofundamento da consciência, para esse "vasto espaço que existe no cérebro onde há inimaginável energia". Essa energia parece ter sido a origem da sua própria criatividade e também a chave para o seu impacto catalítico numa tão grande e variada quantidade de pessoas.

 

A educação foi sempre uma das preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um cotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior. Durante sua vida, viajou por todo o mundo falando às pessoas, tendo falecido em 17 de fevereiro de 1986, em Ojai, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.

 

Reconhecendo a importância dos seus ensinamentos, amigos do filósofo estabeleceram fundações, na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia, assim como Centros de Informação, em muitos países do mundo, onde se podem colher informações sobre Krishnamurti e a sua obra. As fundações têm carácter exclusivamente administrativo e destinam-se não só a difundir sua obra, mas também a ajudar a financiar as escolas experimentais por ele fundadas.

 

Foi vegetariano desde nascença.

 

Citações

  • A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção desprovida de julgamento.

  • Observar não implica acúmulo de conhecimento, apesar de o conhecimento ser obviamente necessário em um certo nível: conhecimento como médico, conhecimento como cientista, conhecimento da história, de todas as coisas do passado. Afinal de contas, isso é o conhecimento: informação sobre as coisas do passado. Não há conhecimento do amanhã, apenas conjecturas sobre o que poderia acontecer amanhã, baseado no seu conhecimento do que já aconteceu. Uma mente que observa com conhecimento é incapaz de seguir rapidamente o fluxo do pensamento. É apenas pelo observar sem a tela do conhecimento que se começa a ver toda a estrutura do seu próprio pensar. E quando você observa - o que não é condenar ou aceitar, mas simplesmente observar - você descobrirá que o pensamento chega a um fim. Observar casualmente um pensamento ocasional não leva a lugar nenhum. Mas se você observa o processo do pensar e não se torna um observador separado do observado, você vê todo o movimento do pensamento sem aceitá-lo ou condená-lo, então essa própria observação põe um fim imediatamente no pensamento - e consequentemente a mente está compassiva; ela está num estado de constante mutação.

  • Há uma diferença entre concentração e atenção. Concentração é trazer toda sua energia para focá-la em um ponto determinado. Na atenção não existe um ponto de foco. Nós estamos familiarizados com um e não com o outro. Quando você presta atenção ao seu corpo, o corpo torna-se quieto, o qual tem sua própria disciplina. Ele está relaxado, mas não indolente e tem a energia da harmonia. Quando existe atenção, não há contradição e, portanto, não há conflito. Quando você ler isto, preste atenção à maneira que você está sentado, à maneira que você está escutando, como você está recebendo o que a carta está dizendo a você, como você está reagindo ao que está sendo dito e porque você está achando difícil prestar atenção. Você não está aprendendo como prestar atenção. Se você estiver aprendendo o como prestar atenção, então isto se tornará um sistema, que é o que o cérebro está acostumado, e então você faz da atenção algo mecânico e repetitivo, ao passo que a atenção não é mecânica ou repetitiva. É a maneira de olhar para sua vida inteira sem o centro do interesse próprio.

  • O problema, por conseguinte, é este: para que o homem possa transformar-se radicalmente, fundamentalmente, torna-se necessária uma mutação nas próprias células cerebrais de sua mente. Dizem-nos que devemos mudar, que devemos agir, que devemos transformar nossa mente, nosso coração, tornar-nos uma coisa totalmente diferente. Isso vem sendo pregado há milhares de anos por homens muito sérios, muito ardorosos, e também por charlatães interessados em explorar o povo. Mas, agora, chegamos ao ponto em que não há mais tempo a perder. Compreendei isto por favor. Não dispomos de tempo para efetuar gradualmente tal transformação. Os intelectuais de todo o mundo estão reconhecendo que o homem se acha à beira de um abismo, na iminência de destruir a si próprio. Nem religiões, nem deuses, nem salvadores, nem mestres, nem as lengalengas dos gurus, poderão impedi-los. Dizem os intelectuais ser necessário inventar uma nova droga, uma 'pílula dourada' capaz de produzir uma completa transformação química; e os cientistas provavelmente descobrirão esta droga. Não sei se estais bem a par dessas coisas. Ora conquanto o organismo físico seja um produto bioquímico, pode uma droga, uma superdroga fazer-vos amar, tornar-vos bondosos, generosos, delicados, não violentos? Não o creio; nenhum preparado químico pode fazer os homens amarem-se uns aos outros. O amor não é um produto do pensamento; também não é cultivável, como a flor que cultivamos em nosso jardim. O amor não pode ser comprado numa drogaria, e o amor é a única coisa que poderá salvar o homem - e não os artifícios das religiões, nem seus ritos, nem todos os exércitos do mundo. Podemos fugir, assistindo a concertos, visitando museus, entregando-nos a divertimentos de toda ordem – debalde – porque o homem se acha hoje em dia em presença de um tremendo problema: se tem a possibilidade de transformar-se radicalmente, de efetuar uma total mutação de sua consciência, não amanhã, nem daqui a alguns anos, mas agora! Eis o problema principal: se o homem, em qualquer país que viva, com todas as suas belezas naturais, é capaz de operar uma mutação radical em seu interior, imediatamente. E não podeis resolvê-lo com vossas crenças, vossas ideologias, vossos deuses, salvadores, sacerdotes e rituais. Essas coisas já não tem o menor significado.

  • Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o "supremo princípio", "o maior ideal", e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.

  • Meditação é libertar a mente de toda desonestidade. O pensamento gera desonestidade. O pensamento, no seu esforço para ser honesto, é comparativo e, portanto, desonesto. (…) Meditação é o movimento dessa honestidade no silêncio

  • Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, no qual podeis ver-vos como sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante.

  • … Falamos da vida — e não de ideias, de teorias, de práticas ou de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para a compreender.

 

Frases

  • Entre duas soluções, opte sempre pela mais generosa.

  • Só quem escuta consegue aprender. Escutar é um ato de silêncio, só uma mente serena, mas extremamente ativa, pode aprender.

  • Somente o indivíduo que não está preso aos preceitos da sociedade pode influenciá-la de maneira fundamental.

  • Você já reparou que a inspiração chega quando não a estamos buscando? Ela chega quando toda expectativa acaba, quando a mente e o coração se acalmam.

  • A liberdade é essencial para o amor; não a liberdade da revolta, não a liberdade de fazer o que quisermos, nem de ceder aberta ou secretamente aos nossos desejos, mas sim a liberdade que vem com o entendimento.

  • O seu comportamento diário é decisivo para trazer a paz para o mundo.

  • Cuidado com o homem que diz que sabe tudo.

  • O medo corrompe a inteligência e é uma das causas da egolatria.

  • Quando a mente está completamente silenciosa, tanto superficialmente como nos níveis mais profundos, o desconhecido, o imensurável pode ser revelado.

  • Quando damos um nome a algo, podemos classificá-lo em categorias, nada mais. Acreditamos que entendemos tudo e não procuramos analisar profundamente. Mas se não lhe dermos um nome, seremos obrigados a olhar com atenção, ou seja, olharemos uma flor ou qualquer outra coisa, com uma sensação de novidade, com outra perspectiva: olhamos como se nunca a tivéssemos visto antes.

  • Semeando o trigo uma vez, você colherá uma vez. Se plantar uma árvore, colherá dez vezes e se instruir o povo, colherá uma centena de vezes.

  • A vida é um mistério extraordinário; não é o mistério que existe nos livros e nem mesmo o mistério do qual as pessoas falam, mas um mistério que cada um descobre por si mesmo. Por isso, é muito importante entender o pequeno, o limitado, o cotidiano e ir muito além disso tudo.

  • Quando a pessoa está atenta a tudo, ela se torna sensível, e ser sensível é ter uma percepção interna da beleza, é ter o senso da beleza.

  • A verdade é quem liberta, e não o esforço para ser livre.

  • A liberdade consiste em reconhecer os limites.

  • A sabedoria não é uma acumulação de recordações, mas uma completa vulnerabilidade ao que é verdadeiro.

  • Ninguém pode colocá-lo em uma prisão psicológica, você já está nela.

  • Fugir de um problema serve para deixá-lo ainda maior, e neste processo perdemos a autocompreensão e a liberdade.

  • O nacionalismo é um processo de isolamento que provoca guerras, miséria e destruição.

  • A inteligência é o questionamento do método.

  • O amor brinda a si mesmo como uma flor oferece o seu perfume.

  • Sem a meditação a vida fica desprovida de perfume e de amor.

  • As pessoas precisam exigir dos seus professores um tipo de educação que as encorajem a pensar livremente e sem medo, que as ajude a investigar e compreender.

  • Uma mente religiosa é aquela que é uma luz para si mesma.

  • Não compreendemos para depois agir; quando compreendemos, essa compreensão absoluta é a própria ação.

  • Isto significa que vocês devem vigiar a si mesmos, que devem se precaver das influências que pretendem controlá-los ou vigiá-los, que nunca devem aceitar algo sem refletir, e sim questionar e investigar.

  • Uma simples observação exige uma clareza impressionante; caso contrário, não é possível observar.

  • Por razões políticas e industriais, a disciplina se converteu em um fator muito importante na atual estrutura social. Aceitamos e praticamos várias formas de disciplina pelo nosso desejo de ter segurança psicológica.

  • Quando dizemos ‘não sei’, o que queremos dizer?

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Âncora 11

NISARGADATTĀ MAHĀRĀJ (1897 – 1981)

 

Nascido Maruti Shivrampant Kambli, foi um filósofo hindu de Advaita Vedānta (não-dualismo), pertencente ao Inchegeri Sampradāya, uma linhagem de professores da Navnath Sampradāya e Lingayat Shaivism. A publicação em 1973 de "Eu Sou Aquilo" (I Am That), uma tradução em Inglês de suas palestras em marata (língua da Índia falada por aproximadamente 90 milhões de pessoas), lhe trouxe reconhecimento mundial e seguidores, especialmente da América do Norte e Europa.

 

Nisargadattā nasceu no amanhecer de 17 de abril de 1897, um dia de lua cheia no mês de Chaitra (Áries), de um casal devoto hindu: Shivrampant Kambli e Parvatibai, em Bombay. O dia também era de Hanuman Jayantῑ (Os relatos mais antigos colocam o nascimento de Maruti em março, mas agora sabemos que a Hanuman Jayantῑ naquele ano foi em 17 de abril), o aniversário de Hanuman, o rei-macaco herói lendário do poema épico Rāmāyaṇa, ajudante altruísta do Senhor Rāma, daí o menino foi chamado de 'Maruti' (outro nome de Hanuman). Maruti Shivrampant Kambli viveu em Kandalgaon, uma pequena aldeia no distrito Ratnagiri de Mahārāṣhṭra, onde cresceu em meio a sua família de seis irmãos, dois meninos e quatro meninas. Seu pai, Shivrampant, trabalhou como empregado doméstico em Mumbai e depois se tornou um pequeno agricultor em Kandalgaon. Em 1915, depois que seu pai morreu, ele mudou-se para Bombay para sustentar sua família. Inicialmente, ele trabalhou como balconista em um escritório, mas rapidamente ele abriu uma pequena loja de artigos, que vendia principalmente beedis - cigarros enrolados em folha, e logo era dono de uma cadeia de oito lojas de varejo. Em 1924 ele se casou com Sumatibai e tiveram três filhas e um filho.

 

Despertar

Em 1933, ele foi apresentado a seu Mestre, Siddharameśhvar Maharaj, o dirigente da sucursal Inchegiri do Navnath Sampradāya, por seu amigo Yashwantrao Baagkar. Seu Mestre lhe disse: "Você não é o que pensa ser ...". Ele então deu a Nisargadattā instruções simples que ele seguiu na íntegra, como ele mesmo contou mais tarde: "Meu guru ordenou-me a persistir no pensamento "eu sou" e não dar atenção a nada mais. Eu apenas obedeci. Eu não seguia qualquer curso particular de respiração, ou meditação, ou estudo das escrituras. O que aconteceu, eu retirei a minha atenção de tudo e permaneci com o sentimento "eu sou". Pode parecer simples demais, mesmo cru. Minha única razão para fazê-lo foi que o meu guru me disse isso. No entanto, deu certo!" Seguindo as instruções de se concentrar na sensação de "eu sou", ele usou todo o seu tempo livre à procura de si mesmo em silêncio.

 

Depois de uma associação que durou quase dois anos e meio, Siddharameśhvar Mahārāj morreu em 9 de novembro de 1936. Em 1937, Nisargadattā deixou Mumbai e viajou por toda a Índia. Ele finalmente voltou para sua família em Mumbai em 1938, onde passou o resto de sua vida. Na viagem para casa, ele chegou ao despertar: na viagem de regresso evidentemente ele abriu em uma realização irreversível, ininterrupta de Ātma transcendente imanente Eu Divino. Suas práticas espirituais tinham esgotado todos os saṁskāras, os gostos e desgostos problemáticos herdados do karma passado. Finalmente despertou para o Absoluto, Realidade Absoluta. Todo apego, aversão e ilusão tinham terminado. Nisargadattā estava agora totalmente livre no estado de jῑvanmukta, um liberado enquanto ainda num corpo.

 

Entre 1942-1948, ele sofreu duas perdas pessoais, primeiro a morte de sua esposa, Sumatibai, seguido pela morte de sua filha. Ele começou a dar iniciações em 1951, depois de uma revelação pessoal de seu guru, Siddharameśhwar Mahārāj. Desde seu retorno a Bombay em 1938, Nisargadattā tinha sido procurado por aqueles que desejavam o seu conselho em assuntos espirituais. Muitos queriam tornar-se seus discípulos e obter mantra-iniciação formal dele, reverentemente chamando-o "Mahārāj", "Grande Rei (espiritual)". No entanto, ele estava relutante em ter discípulos e servir como um guru. Finalmente, em 1951, depois de receber uma revelação interior de Siddharameśhvar, ele começou a iniciar alunos. Depois que se aposentou de sua loja em 1966, Nisargadattā Mahārāj continuou a receber e ensinar os visitantes em sua casa, dando discursos duas vezes por dia, até sua morte, em 8 de setembro de 1981 com a idade de 84 anos, de câncer na garganta.

 

Ensinamentos

A consciência da verdadeira natureza

De acordo com Timothy Conway, o único assunto de Nisargadattā foi: ... "A Nossa Verdadeira Identidade como não-nascimento imortal, consciência absoluta infinito-eterno Parabrahman. Para Mahārāj, o nosso único "problema" é um caso de erro de identidade: nós presumimos ser um indivíduo, e, fundamentalmente, não somos um indivíduo, somos intrinsecamente sempre e somente o Absoluto."

 

Nisargadattā explica: "A força da vida [prana] e da mente estão a funcionar [por conta própria], mas a mente vai tentá-lo a acreditar que é "você". Portanto entenda sempre que você é a não espacial e atemporal testemunha."

 

A autoinvestigação

De acordo com Conway, consciência do Absoluto poderia ser recuperada por: “a desidentificação radical do sonho de "eu e meu mundo" via intensa meditação, autoinvestigação (ātma-vichāra) e suprema sabedoria (vijñāna ou jñāna). Eu sei só Ātma-yoga, que é ‘Autoconhecimento’, e nada mais”.

 

Devoção

Nisargadattā era crítico de uma abordagem meramente intelectual à verdade não-dual. Ele tinha um forte zelo devocional ao seu próprio Mestre, e sugeriu o caminho da devoção, Bhakti Yoga, a alguns de seus visitantes. Jñāna yoga não é a única abordagem para a Verdade. Nisargadattā também enfatizou o amor ao Mestre e a Deus.

 

Frases

  • É sempre o falso que nos faz sofrer, os falsos desejos e medos, os falsos valores e ideias, as falsas relações entre as pessoas. Abandone o falso e você estará livre da dor; a verdade nos faz felizes, a verdade liberta.

  • Não é você quem deseja, teme e sofre, é a pessoa construída na fundação do seu corpo por circunstâncias e influências. Você não é essa pessoa. Isto deve estar claramente estabelecido na sua mente e nunca se perder de vista.

  • Fluir com a vida quer dizer aceitação: deixar chegar o que vem e deixar ir o que se vai.

  • O tempo, o espaço e a casualidade são categorias mentais, que surgem e desaparecem com a mente.

  • O mais importante é estar livre de contradições: a meta e o caminho não devem estar em níveis diferentes.

  • Somos escravos do que não conhecemos; daquilo que conhecemos somos donos.

  • Quando estiver liberado do mundo, poderá fazer algo por ele. Enquanto for seu prisioneiro não poderá alterá-lo.

  • Qualquer coisa que dependa de algo não é real. O real é verdadeiramente independente.

  • A busca de causas é um passatempo da mente. A dualidade de causa e efeito não existe. Tudo é a sua própria causa.

  • Nada pode libertá-lo porque você já é livre.

  • A pessoa que diz saber o que é bom para os demais é perigosa.

  • Cada um vê o mundo através da ideia que tem de si mesmo. Segundo o que acredite ser você, assim acreditará que é o mundo.

  • A única ajuda que vale a pena brindar aos demais é a liberação da necessidade de ajuda.

  • Quando não exigir nada do mundo, nem de Deus, quando não quiser nada, não buscar nada, nem esperar nada, então o estado supremo chegará a você inesperadamente e sem convite!

  • O destino só se refere ao nome e à forma. Dado que você não é a mente nem o corpo, o destino não exerce controle sobre você. Você é completamente livre.

  • Os seus desejos são tão complexos e contraditórios, que não é de se estranhar que a sociedade que você criou seja também complexa e contraditória.

  • As coisas mais evidentes são as mais duvidosas.

  • O prazer adormece-o e a dor desperta-o. Se não quer sofrer, não se deite para dormir.

  • O que você é, só pode sê-lo, não o conhecer.

  • Nada pode ajudar mais ao mundo que o feito de que você ponha fim à sua ignorância. Então você não terá que fazer nada em particular para ajudar ao mundo. Sua própria existência será uma ajuda, atue ou não atue.

  • Você nunca nasceu nem nunca morrerá. O que nasceu e morrerá é a ideia, não você.

  • Limite os seus interesses e as suas atividades ao que seja necessário para você e para cobrir as necessidades dos que dependem de você. Reserve todas as suas energias e todo o seu tempo para romper o muro que a mente construiu à sua volta.

  • A porta que o mantém fechado também é a porta que o deixa sair.

  • Quando compreende que tudo sucede por si mesmo, você permanece só como a testemunha, compreendendo e gozando, mas sem ser perturbado.

  • Correr atrás dos santos (gurus, mestres, etc.) é só um passatempo, um jogo a mais. No lugar disso, recorde-se a si mesmo e observe a sua vida diária sem cessar.

  • O autêntico sādhana (prática, por exemplo de Yoga) é sem esforço.

  • Toda a preparação é para o futuro, não se pode preparar o presente.

  • Não conheço más pessoas, só me conheço a mim mesmo. Eu não vejo santos nem pecadores, só seres vivos.

  • O que é a religião? Uma nuvem no céu. Eu vivo no céu, não nas nuvens, que não são outra coisa que um monte de palavras juntas.

  • Só negando pode alguém viver. A afirmação é cativeiro. Questionar e negar é necessário. É a essência da rebeldia e sem rebeldia não pode haver liberdade.

  • A liberação é uma questão de coragem, a coragem de acreditar que você já é livre e atuar de acordo com isso.

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Âncora 12

ŚHRῙ SATHYA SAI BABA (1926 – 2011)

 

 

 

 

 

 

Com o nome de nascimento Sathyanarayana Raju, nasceu em uma pequena aldeia localizada no Sul da Índia, aproximadamente 170 km ao norte de Bangalore em 23 de novembro de 1926. Era um guru, líder espiritual, místico, filantropo e educador, considerado por muitos como um avatāra (encarnação na forma humana de um ser divino). Ele próprio dizia ser a reencarnação de Shirdi Sai Baba, um religioso eclético indiano do século XIX venerado tanto por hindus quanto por muçulmanos. Também dizia que, futuramente, seria Prema Sai Baba, quando o planeta Terra viveria em um mundo de paz.

 

Na metade final do século XX, alcançou tremenda popularidade ao redor do mundo e se transformou num ícone espiritual. Sua compaixão, sabedoria e generosidade produziam profundas mudanças de caráter e conduta naqueles que o seguiam.

 

A materialização de vibhūti (cinza sagrada para os hindus) e outros pequenos objetos como anéis, colares e relógios por Sathya Sai Baba era fonte tanto de fé e fama como também de críticas e controvérsias: devotos consideravam-nas como sinais de divindade, enquanto céticos as viam como simples truques de mágica. Sua fotografia costuma ser exibida em milhares de casas, amuletos e nos painéis dos carros, pois sua imagem é considerada por muitos como sinal de boa sorte.

 

Desde a infância, demonstrou extraordinárias qualidades e poderes que o distinguiam das demais crianças. Aos 14 anos, o menino comunicou, a seus familiares, que, a partir daquele momento, seria conhecido como Sai Baba e que sua missão seria a de promover a regeneração espiritual da humanidade, demonstrando e ensinando os mais elevados princípios, como a Verdade, a Retidão, a Paz, a Não violência e o Amor Divino. Anos mais tarde, quando perguntado com que idade havia deixado casa e família, Sai Baba respondeu: "Como poderia Eu, cujo lar é este Universo, haver abandonado casa e família?"

 

Em 1950, seus seguidores construíram um āshrama (comunidade espiritual) próximo à aldeia onde Sai Baba nasceu, o qual foi denominado “Praśānthi Nilayam” (Morada da Paz Suprema). O āshrama veio a se converter em um lugar de peregrinação para milhões de pessoas, de diversas origens. Na própria Índia, Sai Baba conquistou seguidores de diversas classes sociais, sempre ajudou aos pobres, se referindo aos de espírito. Em suas mensagens, se referiu ao amor como sendo a principal fonte de contato com o divino.

 

Também estimulava a prática religiosa das pessoas, não importa qual religião fosse, pois ele achava que todas as religiões eram, no fundo, uma só, constituindo-se todas elas apenas em diferentes caminhos que conduziam a um mesmo fimː Deus. Sai Baba era um ícone cultural na Índia; em 2002, considerava ter devotos em 178 países, incluindo presidentes e primeiros-ministros. Em 2011, pouco antes de sua morte, Sathya Sai Baba foi listado entre as 100 pessoas de maior influência espiritual no mundo.

 

Sobre Si Mesmo

Numa de suas temporadas em “Bṛindāvana”, seu segundo āshrama, Sathya Sai Baba falou sobre si mesmo, em 19 de junho de 1974, explicando o significado de seu nome.
 
Deus é inescrutável. Ele não pode ser percebido no mundo objetivo externo; Ele está no coração de cada ser. Pedras preciosas devem ser procuradas nas profundezas do solo; elas não flutuam em pleno ar. Procure Deus nas profundezas de si mesmo, e não na tentadora e caleidoscópica Natureza. O corpo é concedido a você para este elevado propósito; mas, você está atualmente, fazendo um uso impróprio dele, como a pessoa que cozinhava sua comida diária na vasilha de ouro cravejada de joias que chegou a suas mãos como relíquia de família.

 

O homem exalta Deus como onipresente, onisciente e onipotente, mas, ele ignora Sua Presença nele mesmo! É claro, muitos se aventuram a descrever os atributos de Deus e O proclamam como sendo assim e assado; mas, esses atributos são somente suas próprias suposições e os reflexos de suas predileções e preferências.

 

Quem pode afirmar que Deus é isso ou aquilo? Quem pode afirmar que Deus não é tal forma ou possuidor de tal atributo? Cada um pode adquirir da vasta extensão do oceano somente o quanto pode ser contido no vasilhame que levar até a praia. A partir dessa quantidade, pode-se conhecer um pouquinho daquela imensidão. Cada religião define Deus dentro dos limites que demarca e então alega conhecê-Lo todo. Como os sete cegos que falavam do elefante como um pilar, um abanador, uma corda ou um muro, porque eles entravam em contato com apenas uma parte e não podiam compreender o animal inteiro, similarmente, as religiões falam de uma parte e afirmam que essa visão é completa e total.

 

Só há uma religião, a Religião do Amor

Cada religião esquece que Deus é todas as Formas e todos os Nomes, todos os atributos e asserções. A religião da Humanidade é a soma e a substância de todas essas fés parciais; portanto, existe somente uma Religião e essa é a Religião do Amor. Os vários órgãos do elefante que, para os buscadores sem visão da sua verdade, pareceram separados e distintos, foram todos fomentados e ativados por uma única corrente sanguínea; as várias religiões e fés que se sentem separadas e distintas são todas fomentadas por uma única corrente de amor.

 

O sentido da visão não pode ver a Verdade. Apenas pode fornecer informação falsa e turva. Por exemplo, muitos observam Minhas ações e começam a declarar que Minha natureza é assim e assado. Eles são incapazes de avaliar a santidade, a majestade, e a realidade eterna que Eu Sou. O poder de Sai é ilimitado; manifesta-se eternamente. Todas as formas de 'poder' residem nas palmas das mãos de Sai.

 

Mas, aqueles que declaram ter Me entendido, os intelectuais, os Yogis (praticantes de Yoga), os Paṇḍitas (eruditos), os Jñānins (sábios), todos eles estão conscientes apenas do menos importante, o casual, a manifestação externa de uma parte infinitesimal desse poder: os chamados 'milagres'! Eles não desejaram entrar em contato com a Fonte de todo Poder e toda Sabedoria, que está disponível aqui em “Bṛindāvana”. Eles estão satisfeitos quando garantem uma chance de exibir seu conhecimento dos livros e alardear sua erudição em Ciência Védica, sem perceber que a Pessoa da qual os Vedas emanaram está entre eles, para seu próprio bem. Em seu orgulho, eles ainda pedem por mais oportunidades!

 

"Derrotas" experimentadas pelos Avatāras são parte do Lῑlā

Este tem sido o caso, em todas as épocas. As pessoas podem estar muito próximas (fisicamente) do Avatāra, mas, vivem suas vidas sem se dar conta de sua fortuna; elas exageram o papel dos milagres, que são tão triviais, quando comparados com Minha glória e majestade, quanto um mosquito é em tamanho e força, comparado ao elefante sobre o qual pousa. Portanto, quando vocês falam sobre esses 'milagres', eu dou risada por dentro, de compaixão, por vocês tão facilmente se permitirem perder a preciosa consciência da Minha Realidade.

 

Meu poder é incomensurável; Minha verdade é inexplicável, insondável. Eu estou anunciando estas coisas sobre Mim, porque a necessidade surgiu. Mas, o que Eu estou fazendo agora é apenas a dádiva de um 'Cartão de Visitas'! Deixem-me dizer a vocês que declarações enfáticas da Verdade por Avatāras foram feitas com tanta clareza e tão inconfundivelmente assim somente por Kṛiṣhṇa. Apesar da declaração, vocês vão reparar, na história do próprio Kṛiṣhṇa, que Ele se submeteu a derrotas em Seus esforços e empenhos, em algumas poucas ocasiões; vocês deverão notar ademais que aquelas derrotas também eram parte do drama que Ele havia planejado e que Ele mesmo dirigiu. Por exemplo, quando muitos Reis suplicaram a Ele que evitasse a guerra com os Kauravas, Ele confessou que Sua Missão na Corte dos Kauravas para assegurar a paz havia 'falhado'! Mas, Ele não havia desejado que tivesse sido bem-sucedida! Ele havia decidido que a guerra deveria ser empreendida! Sua Missão tinha a intenção de punir a cobiça e iniquidade dos Kauravas e de condená-los perante o mundo inteiro.

 

"Não anseie de Mim triviais objetos materiais"

Agora, Eu devo dizer a vocês que, durante o advento deste Avatāra Sai, não há lugar nem mesmo para tal 'drama' com cenas de fracassos ou derrotas! O que Eu quero, deve acontecer; o que Eu planejo, tem que acontecer. Eu sou Verdade (Sathya); e a Verdade não tem necessidade alguma de hesitar, ou temer, ou curvar-se.

 

'Querer' é supérfluo para Mim. Minha Graça, pois, está sempre à disposição dos devotos que têm Amor e Fé firmes e constantes. Desde que Eu me movimento livremente entre eles, falando e cantando, até mesmo intelectuais são incapazes de compreender Minha Verdade, Meu Poder, Minha Glória, ou Minha real Missão como Avatāra. Eu posso resolver qualquer problema, seja o quão espinhoso for. Eu estou além do alcance da investigação mais intensa e da avaliação mais meticulosa. Somente aqueles que reconheceram Meu Amor e experimentaram esse Amor podem afirmar que vislumbraram Minha Realidade. Assim, o Caminho do Amor é a estrada Real que leva a humanidade a Mim.

 

Não tentem Me conhecer através dos olhos externos. Quando você vai a um templo e fica diante da Imagem de Deus, você reza de olhos fechados, não é? Por que? Porque você sente que somente o olho interno da Sabedoria pode revelá-Lo a você. Portanto, não anseie de Mim triviais objetos materiais; mas, anseie por Mim, e você será recompensado. Isso não significa que você não deva receber quaisquer objetos que Eu dê, como sinal da Graça oriunda da plenitude do Amor.

 

Eu devo dizer a vocês por que Eu dou esses anéis, talismãs, rosários, etc. É para sinalizar a ligação entre Mim e aqueles aos quais foram dados. Quando a calamidade cai sobre eles, o artigo vem a Mim num flash e retorna noutro flash, levando de Mim o remédio da Graça da proteção. Essa Graça é disponível para todos que Me chamam através de qualquer Nome ou Forma, e não meramente para aqueles que vestem esses presentes. O Amor é a ligação que conquista a Graça.

 

Não existe criatura sem Amor

Considerem o significado do nome, Sai Baba. Sa significa 'Divino'; ai ou ayi significa 'mãe' e Baba significa 'pai'. O Nome indica a Divina Mãe e o Divino Pai, assim como Sāmba-Shiva, que também significa Mãe e Pai Divinos. Seus pais físicos exibem Amor com uma dose de egoísmo; mas, este 'Mãe e Pai' Sai derrama afeição ou reprimendas, apenas para levá-los rumo à vitória na luta pela autorrealização.

 

Desse modo, este Sai veio em função de realizar a suprema tarefa de unir a humanidade inteira como uma família através dos laços da irmandade, e de afirmar e iluminar a Realidade Átmica de cada ser para que se revele a Divindade que é a base sobre a qual repousa todo o Cosmos, e de instruir a todos a reconhecer a Herança Divina comum que conecta cada ser humano com cada ser humano, de modo que o ser humano possa soltar a si mesmo do animal, e elevar-se à Divindade que é sua meta.

 

Eu sou a encarnação do Amor; Amor é o Meu instrumento. Não existe criatura sem Amor; a mais inferior ama a si mesma, pelo menos. E este 'si mesmo' é Deus. Então, não existem ateístas, ainda que alguns possam não gostar d’Ele ou recusá-Lo, assim como doentes de malária não gostam de doces ou diabéticos recusam a ter qualquer coisa a ver com doces! Aqueles que se envaidecem como ateístas irão um dia, quando sua doença tiver passado, saborear Deus e reverenciá-Lo.

 

Eu tive que dizer a vocês muitas coisas sobre Minha Verdade, porque Eu desejo que vocês gostem de contemplar estas coisas e extraiam alegria delas, de modo que sejam inspirados a observar e cumprir as disciplinas estabelecidas por Mim e progridam em direção à Meta da Autorrealização, a Realização do Sai que brilha em seus corações.

 

Sai Baba morreu em 24 de abril de 2011 em "Puttaparthi", após prolongada internação hospitalar. Foi enterrado com honras do Estado da Índia e milhões de pessoas foram ao seu āshrama para as cerimônias do funeral.

 

Organização Sathya Sai

A mensagem de Sai Baba tem inspirado a criação de milhares de Centros Sai em todo o mundo, além de colégios, escolas técnicas, centros de educação em Valores Humanos, universidades, hospitais, centros de assistência médica etc. As instituições criadas sob a inspiração de Sai Baba têm bastante influência na política indiana, prestam atendimento totalmente gratuito e são bem conhecidas na Índia e em diversos Países.

 

A Organização Sathya Sai informa que existem mais de 1 200 Centros Sai Baba em 126 países. Entretanto, o número de seguidores ativos de Sathya Sai Baba é difícil de se determinar. Estimativas variam de 6 milhões até 100 milhões.

 

Sathya Sai Baba fundou um grande número de escolas, faculdades, hospitais e outras instituições de caridade na Índia e em outros países. O valor total do seu patrimônio é estimado em 400 bilhões de rupias (9 bilhões de dólares estadunidenses).

 

Missão de Sathya Sai Baba

"Vim para acender a chama do Amor em seus corações, para que ela brilhe dia a dia com mais esplendor. Não vim em benefício de alguma religião em particular. Não vim em nenhuma missão de publicidade para qualquer seita, credo ou causa, nem vim reunir seguidores para nenhuma doutrina. Não tenho planos para atrair discípulos ou devotos ao meu rebanho ou a algum outro rebanho. Vim para falar-lhes desta Fé Unitária Universal, deste Princípio Divino, deste Caminho de Amor, desta Ação de Amor, deste Dever de Amor, desta Obrigação de Amor."

                                                                 Sathya Sai Baba

 

A missão de Sathya Sai Baba foi descrita por ele mesmo, em uma carta que escreveu a seu irmão, em 1947. Ele disse: “Eu tenho uma tarefa: nutrir toda a raça humana e assegurar a todos uma vida cheia de bem-aventurança. Eu tenho um voto: conduzir todos os que se desviaram do caminho correto novamente para o bom caminho e salvá-los. Eu estou preso ao trabalho que eu amo: remover os sofrimentos dos pobres e garantir o que lhes falta”.

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