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FILOSOFIA MEDIEVAL

 

A filosofia medieval foi desenvolvida na Europa durante o período da Idade Média (séculos V-XV). Trata-se de um período de expansão e consolidação do Cristianismo na Europa Ocidental. Tentou conciliar a religião com a filosofia, ou seja, a consciência cristã com a razão filosófica e científica. Isto pode parecer paradoxal em nossa época, mas naquele tempo era perfeitamente compreensível.

 

As principais características da filosofia medieval são:

  • Inspiração na filosofia clássica (Greco-romana);

  • União da fé cristã e da razão;

  • Utilização dos conceitos da filosofia grega ao cristianismo;

  • Busca da verdade divina.

 

Muitos filósofos dessa época também faziam parte do clero ou eram religiosos. Nesse momento, os grandes pontos de reflexão para os estudiosos eram: a existência de Deus, a fé e a razão, a imortalidade da alma humana, a salvação, o pecado, a encarnação divina, o livre-arbítrio, dentre outras questões.

 

Sendo assim, as reflexões desenvolvidas no medievo, ainda que pudessem contemplar os estudos científicos, não podiam se contrapor à verdade divina relatada pela Bíblia.

 

Períodos da Filosofia Medieval e Principais Filósofos

O objeto de estudo da filosofia medieval começou antes deste período cronológico da história. Afinal, após a morte de Jesus Cristo, os primeiros cristãos tiveram que conciliar a filosofia grega com os ensinamentos cristãos.

 

Uma vez que a Idade Média foi um longo período da história ocidental, dividimos a Filosofia Medieval em quatro fases:

  • Filosofia dos Padres Apostólicos;

  • Filosofia dos Padres Apologistas;

  • Patrística;

  • Escolástica.

 

A filosofia patrística e escolástica, que correspondem aos dois últimos períodos, foram as mais importantes da filosofia medieval.

 

Filosofia dos Padres Apostólicos

Nos séculos I e II, a filosofia desenvolvida esteve relacionada com o início do Cristianismo e, portanto, os filósofos desse período estavam preocupados em explicar os ensinamentos de Jesus Cristo num meio pagão.

 

Recebe esse nome uma vez que esse cristianismo primitivo esteve baseado nos escritos de diversos apóstolos. O maior representante desse período foi Paulo de Tarso, o Apóstolo Paulo, que escreveu muitas epístolas incluídas no Novo Testamento.

 

Filosofia dos Padres Apologistas

Nos séculos III e IV a filosofia medieval passa para uma nova fase relacionada com a apologia. Esta, era uma figura da retórica que consistia na defesa de algum ideal, nesse caso, a fé cristã.

 

Os "Padres Apologistas" utilizaram as mesmas figuras de linguagem e argumentos para dialogar com os helenistas. Assim, defendia o cristianismo como uma filosofia natural que seria superior ao pensamento greco-romano. Dessa maneira, eles aproximaram o pensamento greco-romano aos conceitos cristãos que estavam se disseminando pelo Império Romano.

 

Nesse período destacam-se os apologistas cristãos: Justino Mártir, Orígenes de Alexandria e Tertuliano.

 

Filosofia Patrística

A filosofia patrística foi desenvolvida a partir do século IV e permaneceu até o século VIII. Recebe esse nome porque os textos desenvolvidos no período foram escritos pelos chamados "Padres da Igreja" (Pater, "pai", em latim).

 

A patrística se preocupava em adaptar os ensinamentos da filosofia grega aos princípios cristãos. Baseava-se nas obras de Platão e identificava a Palavra de Deus com o mundo das ideias platônicas. Partiam do princípio de que o homem seria capaz de entender a Deus através da sua revelação.

 

Esta é uma fase inicial de desenvolvimento da filosofia medieval, quando o Cristianismo está concentrado no Oriente Próximo e vai se expandindo pela Europa. Por isso, a maioria dos filósofos eram também teólogos e o tema principal era a relação da razão e da fé.

 

Os Padres da Igreja precisavam explicar conceitos como imortalidade da alma, existência de um só Deus, e dogmas como a Santíssima Trindade, a partir da filosofia grega.

 

Dentre os Padres da Igreja destacam-se Santo Irineu de Lyon, Santo Inácio de Antióquia, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio de Milão, entre muitos outros.

O filósofo mais destacado do período, porém, foi Santo Agostinho de Hipona.

 

Filosofia Escolástica

Baseada na filosofia de Aristóteles, a Escolástica foi um movimento filosófico medieval que se desenvolveu durante os séculos IX e XVI. Ela surge com o intuito de refletir sobre a existência de Deus, da alma humana, da imortalidade. Em suma, desejam justificar a fé a partir da razão. Por isso, os escolásticos defendiam que era possível conhecer a Deus através do empirismo, da lógica e da razão.

 

Igualmente, a Escolástica pretende defender a doutrina cristã das heresias que apareciam e que ameaçavam romper com a unidade da cristandade. Grandes filósofos da escolástica foram São Bernardo de Claraval, Pedro Abelardo, Guilherme de Ockham, o beato João Duns Escoto, entre outros. Nesse período, o filósofo mais importante foi São Tomás de Aquino e sua obra "Summa Teológica", onde estabelece os cinco princípios para provar a existência de Deus.

 

A Escolástica permaneceu em vigor até a época do Renascimento, quando começa a Idade Moderna.

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AGOSTINHO DE HIPONA (354 d.C. – 430 d.C.)

Aurelius Augustinus (Aurélio Agostinho), mais conhecido como Santo Agostinho de Hipona, foi o patrono da ordem religiosa agostiniana e um dos responsáveis pela concepção do pensamento cristão medieval e da filosofia patrística.

 

Foi também bispo, escritor, teólogo, filósofo, além, de ter testemunhado acontecimentos históricos de primeira ordem, tal como o fim da antiguidade clássica e a invasão de Roma pelos visigodos.

 

Agostinho é considerado “Santo” tanto pela Igreja Católica quanto pela Anglicana e, mesmo para os protestantes e evangélicos, é referência na história eclesiástica com seus escritos e ditos. Portanto, foi canonizado e transformado em “Doutor da Igreja”, um título honorífico e extremamente raro, concebido pela Igreja Católica (apenas 35 Doutores).

 

Suas obras são reeditadas até os dias atuais, das quais se destacam “Confissões” (Confessiones, 397 d.C.), sua autobiografia; “Da Trindade” (De Trinitate, 400 d.C. – 416 d.C., 15 volumes), onde se dedica ao relato da divindade nas pessoas; “Da cidade de Deus” (De Civitate Dei, 413 d.C. – 426 d.C.), sua obra mais conhecida, onde explica a cidade terrestre como uma imitação da cidade celeste; e, Retratações (Retractationes, 426 d.C. – 427 d.C., 2 volumes).

 

Santo Agostinho é tido até hoje como referência para o estudo da teologia bíblica. Esse talento para a interpretação da Bíblia e para sua sistematização pode ser nitidamente observado em suas diversas obras de comentários bíblicos e em seus numerosos sermões. Uma dessas obras de comentários bíblicos, que também serviu de inspiração para a atuação política de pessoas como Martin Luther King Jr., é a obra “Sobre o Sermão do Senhor na Montanha” (De Sermone Domini in Monte, 393 d.C. – 394 d.C.). Nesta obra, Agostinho faz uma explanação do famoso sermão de Jesus (Evangelho de Mateus, capítulos 5 a 7), que é considerado por muitos o lugar onde se concentra a primeira exposição da ética cristã.

 

Nascido em Tagaste, no dia 13 de novembro de 354 (atual Souk-Ahras, Argélia localizada a 90 km do Mediterrâneo), próximo a Hipona, na época províncias romanas do norte da África, Aurelius Augustinus era descendente de berberes (conjunto de povos do Norte de África que falam línguas berberes, da família de línguas afro-asiáticas) por parte de pai (Patrício) e mãe (Mônica), contudo, enquanto o pai permaneceu pagão, sua mãe se convertera ao catolicismo, tornando-se uma cristã fervorosa, tanto que foi canonizada (Santa Mônica). Sua mãe sempre buscou educa-lo na fé cristã. Agostinho, porém, por causa do exemplo do pai, não se importava com a fé.

 

Aos onze anos de idade, foi estudar na ‘Escola de Madaura’, onde teve contato com a literatura latina e com práticas e crenças pagãs. Posteriormente, com 17 anos, foi para Cartago, de modo a prosseguir seus aprendizados em retórica. Lá, embora tenha recebido formação cristã de sua mãe, passou a seguir a doutrina maniqueísta (o maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo), negada veementemente pelos cristãos. Além disso, tornou-se hedonista, ou seja, seguidor da filosofia que tem o prazer como fim absoluto da vida. Dois anos depois, passou a viver com uma mulher cartaginense, com a qual teve um filho chamado Adeodato. O relacionamento dos dois durou treze anos. Durante todo esse tempo, Santa Mônica rezava pela conversão do filho.

 

Mas em 383, mudou-se para Roma, onde abriu sua própria escola, até ser nomeado Professor de Retórica Imperial para o tribunal provincial em Milão, em 384. É neste momento que, enquanto filósofo, irá se afastar do maniqueísmo, pendendo agora ao Ceticismo. Sua mãe, então, mudou-se para Milão e exerceu certa influência sobre seu comportamento. Nesse tempo, também decepcionado com o ceticismo, Agostinho aproximou-se do bispo Ambrósio (Santo Ambrósio de Milão). A princípio, queria apenas ouvir a retórica excelente do bispo.

 

Após, sofre uma crise espiritual em 386 – Augustinus vivia como um romano pagão –, ao ler a vida de Antônio do Deserto e de Atanásio de Alexandria, Agostinho decide se converter ao cristianismo católico e abandonar toda sua antiga vida de conforto e hedonismo para servir a Deus. Assim, foi batizado no ano seguinte, por ninguém menos que Santo Ambrósio (340 – 397), durante a vigília da Páscoa, na cidade de Milão. Antes de se converter, Agostinho separou-se de sua companheira após treze anos de relacionamento e ainda se envolveu com outras mulheres.

 

Agostinho dedicava grande atenção a Adeodato, formando-o na fé e nas ciências humanas. De repente, porém, seu filho veio a falecer. Foi um grande choque. Por causa disso, decidiu voltar para Tagaste. No caminho de volta, aconteceu que sua mãe também faleceu. Agostinho menciona em suas “Confissões” a maravilha e o alimento espiritual que eram os diálogos que ele tinha com sua mãe, Santa Mônica, sobre a pessoa de Jesus Cristo e a beleza da fé cristã. Esses diálogos foram decisivos para sua formação. E agora, com a morte da mãe, muita falta ele sentiu dessas conversas restauradoras.

 

De retorno à África, Agostinho liquida seus bens e divide-o entre os pobres, exceto pelo patrimônio utilizado para formar a ordem agostiniana em Tagaste, no ano de 387.

 

Foi ordenado padre em Hipona, na Argélia, em 391. Nesse pequeno porto do Mediterrâneo, Agostinho foi Bispo Coadjunto, até ser nomeado Bispo, em 397, quando passou a encarregar-se da missa diária duas vezes por dia, bem como da administração dos bens da Igreja e das questões de justiça local.

 

Assim foi até sua morte, em 430, quando deixou-nos, como legado, 113 obras escritas, entre tratados filosóficos, teológicos, comentários de escritos da Bíblia, sermões e cartas.

 

Teologia e Filosofia de Santo Agostinho

De partida, devemos notar que Santo Agostinho foi influenciado pelo maniqueísmo, segundo o qual o mundo seria regido pelas ‘forças do bem e do mal’ (concepção de base platônica), bem como pelo neoplatonismo de Plotino (204 d.C. – 240 d.C.). Por outro lado, sua conversão deu-se graças à oratória do bispo de Milão, Santo Ambrósio, o qual o batizou e influenciou em seus discursos.

 

Foi responsável por reforçar o conceito de “pecado original” e desenvolver o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus, distinta da cidade material dos homens.

 

Também afirmou que a origem do mal estaria no livre-arbítrio, concedido por Deus, donde todo mal seria o resultado do livre afastamento do bem. Era também defensor da predestinação divina.

 

Curiosamente, pregava que o caminho para a verdade estava na fé, contudo, seria a razão o melhor caminho para provar a validade das verdades.

 

Por fim, podemos destacar como influenciados por Santo Agostinho, o teólogo Tomás de Aquino (1225 – 1274), o qual fizera uma nova síntese do pensamento filosófico grego e cristão, e os teólogos João Calvino (1509 – 1564) e Cornelius Otto Jansenius (1585 – 1638), estes, em especial, quanto a teoria da predestinação.

 

Curiosidades

  • No calendário católico, o dia de Santo Agostinho é 28 de agosto, data de sua morte.

  • É atribuído a Santo Agostinho a autoria da primeira autobiografia escrita, intitulada “Confessiones”, escritas entre os anos 397-398.

  • Segundo Agostinho, a interpretação da Bíblia deveria ser feita de acordo com os conhecimentos de cada época, de modo a provocar releituras dos textos sagrados.

  • Santo Agostinho é considerado o Santo protetor dos teólogos, impressores e cervejeiros.

 

Frases de Santo Agostinho:

  • Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo.

  • Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza.

  • Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor.

  • Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você.

  • Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita.

  • A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar.

  • A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações.

  • A verdadeira medida do amor é não ter medida.

  • Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio.

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Âncora 3

BENTO DE NÚRSIA (480 d.C. – 547 d.C.)

Foi um monge italiano, iniciador da Ordem de São Bento ou Ordem Beneditina. Escreveu a Regra de São Bento, livro que transmite as instruções para a criação dos mosteiros. É festejado em 21 de março.

 

Bento nasceu em Núrsia, na Itália, no ano de 480. Filho de uma rica família do lugar era irmão gêmeo de Escolástica que também veio a se tornou santa. Bento foi preparado para estudar Retórica e Filosofia, em Roma. Aos 13 anos, partiu para a capital com uma fiel governanta. Em pouco tempo, desiludido com a decadência moral da cidade, resolveu abandonar tudo e agradar somente a Deus.

 

Bento sai de Roma, com sua governanta, à procura de isolamento, atravessa Tivoli e depois de um dia inteiro caminhando, chega à aldeia de Enfide (atual Affile), em 500 d.C., onde consegue pousada. Nesse local, um fato curioso chamou a atenção de todos: enquanto Bento orava e recolhia os pedaços de uma vasilha de barro que havia caído no chão, a vasilha se recompôs, sem uma rachadura. “Isso seria o primeiro sinal da vida santa de Bento”.

 

Depois do ocorrido, as pessoas começaram a segui-lo, com um misto de curiosidade e veneração. Bento fugiu do lugar abandonando sua ama e seguiu em solitária caminhada e com a ajuda de um abade da região, que lhe deu um hábito de frade, se refugiou em uma gruta de difícil acesso, em Subíaco, para viver como eremita. Depois de três anos, dedicando-se à oração e ao sacrifício, foi descoberto por alguns pastores, que divulgaram sua fama de santidade. A partir de então, foi visitado constantemente por pessoas que buscavam conselhos e direção espiritual. Bento resolve sair disposto a criar uma nova forma de viver a religião, que não suprime os prazeres da amizade.

 

Tinha cerca de trinta anos, quando foi chamado para dirigir uma colônia onde viviam alguns monges. Bento tentou pôr em prática suas ideias, mas a rígida liderança não estava agradando os monges, que tentaram assim, envenenar o vinho de Bento, mas ao estender a mão para benzer o vinho, a taça se espedaçou.

 

Bento necessitava de novos homens e eles não tardaram a chegar. De volta a Subiaco, esses religiosos iniciam a construção de doze mosteiros, espalhados por vales e colinas, utilizando as ruínas abandonadas. Cada mosteiro seria hospedagem para 12 monges, presidida por um decano. Todos dependendo de um mosteiro central onde ficaria a direção geral.

 

Mais uma vez, a iniciativa de Bento desagrada a um padre de uma igreja próxima, e este tenta envenená-lo. Bento resolve abandonar o local e seguiu para o Monte Cassino, lugar situado entre Roma e Nápoles. Por volta de 529 funda o mosteiro que viria a ser o primeiro de sua ordem.

 

Bento de Núrsia expõe seus projetos para a construção do ideal monástico: satisfazer às exigências da oração e da vida comum, dar hospitalidade aos refugiados, dispor de locais adequados às tarefas indispensáveis. Por volta de 534, escreveu o livro “Regula Sancti Benedicti” (A Regra de São Bento), onde expressou todas as exigências para a construção dos mosteiros. A obra serviu de base para a organização da maioria das ordens religiosas. Tem por princípio o convento autossuficiente, tanto material quanto espiritual.

 

As ordens monásticas possuíam um papel civilizatório e moralizador. Bento tinha consciência desse papel e empenhou-se, em sua Regra, na formulação de tarefas tanto de ordem espiritual quanto de ordem laboral (ou seja, relativa ao trabalho dentro da Abadia de Monte Cassino, na Itália, a oeste da cidade de Nápoles, onde se radicou como monge).

 

Os tópicos da Regra de São Bento versavam desde a importância do silêncio, da oração, da humildade, do papel do abade, das vigílias, até fatores corriqueiros como de que modo deveriam ser guardadas e usadas as ferramentas dentro do mosteiro, o celeiro, a cozinha etc. Os tópicos da Regra abarcavam toda a vida cotidiana dos monges, estabelecendo hábitos que, aos poucos, instituíram uma estrutura disciplinadora.

 

A Regra de São Bento elevou o monastério à condição de modelo para a organização social e política da Cristandade, um modelo de pólis, tal como o modelo de cidade ideal elaborado por Platão. Características como isolamento, cercado por terras e muro, extensão de terra suficiente para satisfazer as necessidades materiais e espirituais do grupo, mediante a divisão e a cooperação, com a vida cotidiana equilibrada entre o trabalho, o serviço religioso e o estudo, tornavam o mosteiro na pólis ideal cristã, tal como, na Antiguidade, a pólis helênica ideal.

 

Bento de Núrsia, seis dias antes de sua morte, mandou preparar sua sepultura. Faleceu no dia 21 de março de 547.

 

A Regra Monástica

Sua obra mais significativa foi sua regra monástica escrita por ele com o propósito de normatizar a vida espiritual nos mosteiros da ordem. Apesar de ter sido direcionada exclusivamente aos monges, é impossível não enxergar o chamado do evangelho para se viver uma vida cristã autêntica, presente nas suas orientações. É composta por um prólogo e 73 capítulos, divididos nos seguintes temas:

  1. Estrutura fundamental do mosteiro: capítulos 1-3

  2. A arte espiritual: capítulos 4-7

  3. Oração comum: capítulos 8-20

  4. Organização interna do mosteiro: capítulos 21-52

  5. O mosteiro e suas relações com o mundo: capítulos 53-57

  6. A renovação da comunidade monástica: capítulos 58-65

  7. Porta do Mosteiro e Clausura: capítulo 66

  8. Acréscimos e complementos: capítulos 67-72

  9. Testemunho pessoal de São Bento sobre a Regra: capítulo 73

 

Frases de São Bento de Núrsia:

  • O tempo passado diante do sacrário é o tempo mais bem empregado da minha vida.

  • Ora e Trabalha.

  • Pela paciência participamos da paixão de Cristo.

  • O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora.

  • Devemos acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada à porta do prazer.

  • Volte a paz, antes do por do sol, com aqueles com quem teve desavença.

  • Não queira ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente seja para que como tal o tenham com mais fundamento.

  • Confesse todos os dias a Deus na oração, com lágrimas e gemidos, as faltas passadas e daí por diante emende-se delas.

  • Ao mestre cabe falar e ensinar. Ao discípulo calar e ouvir.

  • Antes de tudo, quando quiseres realizar algo de bom, pede a Deus de coração aberto e em oração muito insistente para que seja plenamente realizado pela vontade d’Ele.

  • Sempre que tiver o conselho de um bom pai, receba-o de boa vontade e executa-o eficazmente.

  • Não endureça o coração sempre que ouvir a voz de Deus falar contigo.

  • Para uma vida verdadeira e perpétua, não fale mal do seu semelhante e nem seja falso. Faça sempre o bem e procure seguir sempre em paz.

  • Para alcançar o verdadeiro Reino dos Céus, precisa percorrer o caminho das boas obras, baseado sempre no Evangelho de Jesus Cristo.

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Âncora 2

TOMÁS DE AQUINO (1225 d.C. – 1274 d.C.)

 

Considerado o "Príncipe da Escolástica", foi um importante filósofo e padre italiano da Idade Média, intitulado Doutor da Igreja Católica, em 1567.

 

Tomás de Aquino nasceu em 1225, em Aquino, uma comunidade italiana, no Castelo de Roccasecca. Filho do Conde Landulf de Aquino, teve uma influente e apropriada educação. Estudou na abadia de Roccasecca, no Mosteiro da Ordem de São Bento de Cassino. Mais tarde, ingressou na Universidade de Nápoles, na Cátedra “Artes Liberais”.

 

Com apenas 19 anos, em 1244, abandona o curso e decide seguir sua vocação religiosa tornando-se dominicano, ao ingressar na Ordem dos Dominicanos, no convento Saint Jacques, em Paris. Permaneceu alguns anos em Paris, cidade importante para seu desenvolvimento espiritual, intelectual e profissional.

 

Entretanto, foi na cidade de Colônia, na Alemanha, que Aquino escreve suas primeiras obras, sendo discípulo do bispo, filósofo e teólogo alemão Santo Alberto Magno (1206 d.C-1280 d.C.), conhecido como Alberto, o grande.

 

Mais tarde, em 1252, Tomás de Aquino retorna à Paris onde se gradua em Teologia e segue a carreira de professor. Ministrou aulas em Roma, Nápoles e outras cidades da Itália.

Ficou conhecido como Doutor Angélico, cujo trabalho de vida esteve dedicado a fé, a esperança e a caridade constituindo assim, um pregador cristão da razão e da prudência.

Foi um dos defensores da Escolástica, método dialético que pretendia unir a fé a razão em prol do crescimento humano. Uma de suas maiores obras, Summa Theologica, é o maior exemplo da Escolástica, na qual apresenta relações entre a ciência, razão, filosofia, fé e teologia. Segundo Aquino:

“Nada há no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos”.

São Tomás Faleceu na cidade de Fossanova, Itália, no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 anos de idade.

 

Filosofia de São Tomás de Aquino

Inspirado nas ideias do filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), o trabalho de São Tomás de Aquino esteve pautado no realismo aristotélico, em detrimento dos seguidores de Santo Agostinho, inspirados no idealismo de Platão.

 

Por isso, Aquino foi um dos pensadores mais destacados desse período, defensor da filosofia escolástica, método cristão e filosófico, pautado na união entre a razão e a fé. Assim, Tomás de Aquino escreveu inúmeras obras, onde privilegiou a razão e a vontade humana formulando assim, um novo pensamento filosófico cristão.

 

Obras de São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino foi grande estudioso e ávido escritor nas áreas da filosofia, metafísica, física, teologia, ética e política. Algumas de suas obras:

  • Preces

  • Sermões

  • Suma Contra os Gentios

  • Suma Teológica

  • Exposição sobre o Credo

  • O Ente e a Essência (1248-1252)

  • Compêndio de Teologia (1258-1259)

  • Comentários ao Evangelho de São João

  • Comentários da Epístola de São Paulo

  • Comentário às Sentenças

 

Frases de São Tomás de Aquino:

  • A humildade é o primeiro degrau para a sabedoria.

  • O desordenado amor por si mesmo é a causa de todos os pecados.

  • Cuidado com o homem de um só livro.

  • A razão é a imperfeição da inteligência.

  • A arte é a razão correta na execução de um trabalho.

  • A comunhão destrói a tentação do demônio.

  • Para aqueles que tem fé, nenhuma explicação é necessária. Para aqueles sem fé, nenhuma explicação é possível.

  • Se a meta principal de um capitão fosse preservar seu barco, ele o conservaria no porto para sempre.

  • Quem diz verdades perde amizades.

  • Pois é muito mais grave corromper a fé, da qual vem a vida da alma, que falsificar dinheiro, pelo qual a vida temporal é sustentada.

  • A ninguém te mostres muito íntimo, pois familiaridade excessiva gera desprezo.

  • Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la.

 

Adoro Te Devote

Hino cristão escrito por Tomás de Aquino:

“Eu te adoro com afeto, Deus oculto,
que te escondes nestas aparências.
A ti sujeita-se o meu coração por inteiro
e desfalece ao te contemplar.
A vista, o tato e o gosto não te alcançam,
mas só com o ouvir-te firmemente creio.
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus,
nada mais verdadeiro do que esta Palavra da Verdade.
Na cruz estava oculta somente a tua divindade,
mas aqui se esconde também a humanidade.
Eu, porém, crendo e confessando ambas,
peço-te o que pediu o ladrão arrependido.
Tal como Tomé, também eu não vejo as tuas chagas,
mas confesso, Senhor, que és o meu Deus;
faz-me crer sempre mais em ti,
esperar em ti, amar-te.
Ó memorial da morte do Senhor,
pão vivo que dás vida ao homem,
faz que meu pensamento sempre de ti viva,
e que sempre lhe seja doce este saber.
Senhor Jesus, terno banho,
lava-me a mim, imundo, com teu sangue,
do qual uma só gota já pode salvar
o mundo de todos os pecados.
Jesus, a quem agora vejo sob véus,
peço-te que se cumpra o que mais anseio:
que vendo o teu rosto descoberto,
seja eu feliz contemplando a tua glória”

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Âncora 4

ECKHART (1260 – 1328)

 

 

 

 

 

 

 

Eckhart von Hochhein, mais conhecido como Mestre Eckhart, foi um dos mais importantes filósofos místicos medievais, nasceu em Hochheim, perto de Gotha, na Turíngia, região que hoje se situa no centro-oeste da Alemanha. É considerado um dos grandes símbolos do espírito intelectual da Idade Média e um grande expoente do neoplatonismo e do misticismo. Eckhart era conhecido por seus sermões eloquentes e improvisados, e também pelo uso de paradoxos e linguagem incomum em sua obra, algo que facilmente causava (e ainda causa) erros de interpretação em suas obras e polêmicas.

 

Entrou para a ordem dos dominicanos muito jovem e, aos 17 anos, vai a Paris estudar artes, que na época incluía lógica, gramática, retórica, música, astrologia, geometria e aritmética. Em 1280 Eckhart parte para Colônia, onde estuda teologia. Nessa época é aluno de Alberto Magno, cientista, filósofo e teólogo aristotélico. Em 1302, termina os estudos em teologia na universidade de Paris, passando a ser Mestre Eckhart. Em 1303 torna-se provincial da Saxônia, assumindo grande responsabilidade, incluindo a fundação de novos conventos, a direção espiritual dos irmãos e irmãs e a condução de negócios com os senhores feudais.

 

Entre 1314 e 1322 ele ocupa, em Estrasburgo, o cargo de vigário-geral da ordem. Nesse período, viaja bastante e faz pregações ao povo, na língua alemã. Em 1323 é enviado a Colônia, onde ensina teologia, faz pregações e dedica-se à produção intelectual. Por conta disso teve sua ortodoxia questionada e no final da vida foi julgado pela inquisição.

 

Em 1326 tem início um processo inquisitorial contra Eckhart, por supostas doutrinas heréticas. É designada uma comissão, que seleciona 120 proposições de Eckhart, tiradas do livro "Da Divina Consolação", das obras latinas e dos sermões em alemão. Ele protesta contra esse método de selecionar frases dentro de uma imensa obra, tirando-as do contexto em que foram escritas. Além disso, pede o privilégio de isenção, conseguido por dominicanos e franciscanos, de ser julgado pela Sé Apostólica ou pela Universidade de Paris. As 120 proposições em que era acusado de heresia foram reduzidas para 28, e ele tentou explicar-se junto à comissão, mas sem êxito.

 

Antes de se dirigir a Avignon, cidade em que seria julgado e onde estava o papa, Eckhart faz em fevereiro de 1327, diante de todo o povo, uma profissão de ortodoxia, ou seja, afirma concordar com as regras e preceitos da Igreja e, em sua defesa aceita renegar os 28 argumentos seus "suspeitos de heresia", se isso fosse necessário em reconhecimento da autoridade do tribunal. Em seguida, vai para Avignon, a fim de acompanhar o julgamento de sua doutrina. Mestre Eckhart não assiste à sua condenação, pois morre de causas naturais em abril de 1328, antes de receber o veredito. No dia 27 de março de 1329, com a Constituição In Agro Dominico, o papa João XXII condenou as 28 proposições de Eckhart.

 

Seu pensamento influenciou muitos outros místicos, entre os quais Julian de Norwich, Teresa de Ávila, São João da Cruz, Nicolau de Cusa e Hegel. A partir do século 19, com a descoberta de seus manuscritos e a diminuição da perseguição por parte da Igreja, sua obra é redescoberta e sua imagem se refaz, a ponto de hoje ele ser reconhecido como um dos mais importantes representantes do misticismo cristão.

 

Frase de Mestre Eckhart

  • “Se te amas a ti mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa menos do que a ti mesmo, não te conseguirás amar a ti mesmo”.

  • “Se a única oração que disser em toda a sua vida for um muito obrigado. Será o bastante”.

  • “O ser humano tem muitas peles em si mesmo, que lhe cobrem as profundezas do coração. O homem conhece tantas coisas, mas não conhece a si mesmo. Ora, trinta ou quarenta peles ou couros, inteiramente semelhantes aos de um boi ou de um urso, igualmente grossos e duros, recobrem a alma. Penetre no seu próprio fundamento e aprenda ali a conhecer-se”.

  • “Em todo o Universo, nada existe de mais parecido com Deus que o silêncio”.

  • “Enquanto eu sou isso ou aquilo, eu não sou todas as coisas simultaneamente”.

  • “Quem quiser existir na nudez de sua natureza, livre de toda mediação, deve ter deixado atrás de si toda distinção de pessoa, de forma que seja tão aberto àquele que está longínquo, e a quem nunca tenha visto, quanto à pessoa com a qual se encontra agora, e de quem seja amigo pessoal”.

  • “A humanidade é tão perfeita e tão completa no mais pobre e miserável, quanto no Papa ou no Imperador, pois eu dou mais valor à humanidade em si, do que ao homem que comigo carrego”.

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